Veganismo Popular é uma pauta política e não moral

Por João Pedro Ambrosi, do Coletivo VESPA (Veganismo Solidário Popular e Anticapitalista) e da Alternativa Socialista/PSOL, LIS-Brasil.

Temos passado por um momento em que o conservadorismo religioso aflorou no nosso país, esse conservadorismo traz consigo uma forma impositiva de puritanismo, tutelando diversas ações do nosso dia a dia. Assim como no passado buscam o proibicionismo, justificando que algumas ações são pecaminosas. Nesse sentido a tarefa dos militantes veganos é de politizar ainda mais o debate, para não serem engolidos por esse pensamento.

Em um momento da história o movimento proibicionista nos EUA no período de 1800 a 1900 trouxe o debate do não consumo de carne, utilizando esse tema para inibir sexualmente os indivíduos. Diziam que o consumo excessivo de carne fazia aumentar a libido das pessoas. Como tinham um pensamento contra a liberdade sexual, e até mesmo contra a masturbação, esse debate se tornou algo moral.

Trazendo para os dias de hoje, quando trata-se do veganismo como uma dieta, repete-se o mesmo erro de individualizar e meritocratizar o tema, pensar em não consumir carne, ou derivados animais, pelo bem no nosso corpo apenas. Jogando todo o debate para o moralismo.

Quando o pensamento é pelo benefício próprio o indivíduo que se libertou do pecado da carne acaba se considerando superior aos demais pecadores. Como se quem não consumisse carne tivesse uma visão mais justa para o mundo, se todos fossem assim teríamos um paraíso na terra. O Ego infla e aos poucos tratam como pecado uma série de escolhas que fazem mal para o corpo alheio.

Voltando ao passado vemos que esse tipo de pensamento começa a inibir a liberdade dos demais, não comer carne, não fazer sexo, não beber, entre outras ações. Tudo começa a ser considerado um problema para o indivíduo e para a sociedade no fim das contas. Assim quem não pratica tais ações é melhor do que quem pratica, estaria mais próximo da perfeição.

Ao deixar de politizar os temas abrimos espaço para o moralismo, e todo moralismo é usado como ferramenta de opressão social. Fatos do passado nos mostram que essa abordagem trouxe muito mais problema do que solução. O papel de quem luta pelo Veganismo Popular é de dialogar sem colocar as coisas no âmbito moral.

Politizar é mostrar os fatos, é debater e mais importante de tudo é entender as questões materiais que regem os indivíduos. As realidades são distintas e a forma de inserção do debate também é, por isso a necessidade de se situar nas múltiplas distinções que existem em cada espaço.

Os problemas causados pela indústria da exploração animal são evidentes, cabe aos militantes veganos entender cada um e saber dialogar com a população. O Veganismo Popular se apresenta como uma ferramenta de superação desta indústria destrutiva, porém uma superação política e não moral. Só assim teremos um debate continuo com amplo entendimento de todos que o integram.

Só superando todo esse reacionarismo, criado para proteger o sistema de produção capitalista, que se pode vislumbrar uma superação da exploração animal e da natureza. A geração de lucro necessita que os debates sejam meramente na esfera moral, assim não avançam e por consequência mantém o sistema de exploração vivo como nunca esteve.

Que o Veganismo Popular seja cada vez mais anticapitalista!!