Em defesa da independência do PSOL

Por Comité de Enlace Alternativa Socialista/PSOL e Luta Socialista/PSOL – LIS, Brasil.

Declaramos nosso absoluto repúdio à decisão tomada na última reunião da Executiva Nacional, por apenas 10 votos a favor e 9 contra, pela participação do PSOL na comissão de transição governamental Lula-Alckmin.

O Partido Socialismo e Liberdade que construímos e defendemos, é o da independência de classe e pelo socialismo. Integrar um governo de conciliação de classe, mesmo em período de transição ou não, significa abandonar e liquidar o PSOL para convertê-lo ao projeto da convivência pacífica com aqueles que exploram, oprimem e reprimem a classe trabalhadora e os setores populares.

A independência de classe, além de um princípio, é uma necessidade

A questão de defender a independência política das organizações da classe trabalhadora e os explorados, é um princípio que guia nossa construção desde sempre. Marx e Engels, no seu Manifesto Comunista na metade do Século 19, já declararam sua guerra contra o capitalismo e chamavam as trabalhadoras e os trabalhadores do mundo a se unir numa mesma organização, o partido da classe trabalhadora. Depois veio Lenin que, diante da traição da social-democracia europeia que votou os créditos de guerra na 2º Guerra Mundial, levando a classe trabalhadora a lutar e morrer numa guerra da burguesia, chamou a construir partidos operários que fossem capazes de conspirar contra o sistema de exploração, o sistema capitalista, e estivessem dispostos a tomar o poder do estado para construir o socialismo.

De lá para cá muita coisa tem acontecido na história da luta de classes, mas o que nunca mudou foi a necessidade de construir um mundo viável para as maiorias e que é ameaçado por uma minoria, que se beneficia e lucra em base a nossa exploração e opressão. É necessário resolver a contradição entre capitalistas e trabalhadores ou trabalhadoras, porque do contrário o único futuro viável é a barbárie.

Hoje, mais do que nunca, defender a independência política do PSOL é uma necessidade. Frente uma extrema direita encorajada e um governo de Frente Ampla com partidos e políticos da direita brasileira, o PSOL tem a tarefa de levantar o programa socialista e se dispor para fortalecer e organizar as batalhas que a classe trabalhadora dá diariamente em cada lugar de trabalho, bairro, favelas, escolas, universidades ou qualquer terreno onde se expresse uma luta.

É o governo, estúpido!

As correntes Primavera Socialista, Revolução Solidária, Insurgência e Subverta, representadas nos 10 votos a favor de participar da comissão de transição para o novo governo, abandonam esse princípio. Princípio que foi motivador da fundação do partido e que muitos e muitas, representados nos 9 votos contra, defendemos.

Segundo Juliano Medeiros, presidente do partido, “Será uma oportunidade de fortalecer uma agenda de esquerda para 2023 e compreender o tamanho dos desafios que temos diante de nós”. A declaração pública, no site do partido, em relação à definição de fazer parte ou não do próximo governo, expressa que a decisão será tomada em dezembro de acordo “com o avanço da definição da configuração política e das propostas e compromissos assumidos pelo futuro governo”. Está bem claro a definição da direção majoritária do PSOL. Estão se preparando para fazer parte de um governo com a burguesia e tentam justificar isso com um discurso que não se mantém de pé nem por um instante.

Não estamos falando de um apoio tático para alguma política ou no terreno eleitoral. Do que falamos é governar junto aos patrões, banqueiros e empresários. Não é tático! A decisão significa abandonar a estratégia de por fim à contradição capital-trabalho, com um governo das trabalhadoras e dos trabalhadores e iniciar a construção de uma sociedades sem exploração nem opressão, uma sociedade socialista.

Organizar a esquerda do partido antes que seja tarde demais

O partido está numa encruzilhada e é por isso que devemos atuar com urgência. Chamemos às bases do PSOL a defender o projeto histórico do partido! Convocamos às correntes que votaram junto conosco contra compor a comissão. MES, Resistência, Fortalecer, Comuna e demais correntes e referências como o companheiro Glauber Braga, a fazer uma reunião nacional para organizar os próximos passos. Precisamos convocar, mobilizar e organizar a militância pesolista que se mantém na tarefa de construir um partido com independência de classe e socialista. Não há tempo a perder, atuemos antes que seja tarde demais.

*Foto: Ricardo Stuckert