Memorial dos/as trabalhadores/as da Educação do Amazonas mortos na pandemia do Covid 19

Se não morre aquele que escreve um livro e planta uma árvore, com mais razão não morre o educador que semeia vida e escreve na alma. Bertold Brecht

Este Memorial foi pensado como uma forma de homenagear nossos/as colegas da educação da educação básica e do ensino superior, que partiram durante a pandemia da Covid 19 no estado do Amazonas, e que pela intensidade de tantas perdas não tivemos o tempo do luto e fomos impossibilitados, pelo distanciamento social, de velar seus corpos. Todos/as que partiram levaram consigo um pouco de nós, por isso nos cabe assegurar suas memórias na história da Educação do estado do Amazonas, bem como de honrá-las em suas experiências e lutas cotidianas na formação do povo amazonense.

Essas perdas estão direta e indiretamente relacionadas ao coronavírus. A cada dia nos chegam notícias de mortes de colegas, o que torna impossível esse Memorial ser fixo, pois a incerteza do presente tornaainda mais incerto o nosso futuro. Não sabemos quando venceremos essa pandemia, mas sabemos que perdemos para ela em vidas que foram abreviadas, em laços sociais interrompidos e nos nossos direitos que foram retirados: direito a vida, principalmente, ao luto, ao trabalho digno, ao cuidado e a assistência à nossa saúde.

Precisamos deixar claro, que a pandemia refletiu a crueldade do mundo capitalista, e expôs, de forma violenta, a desigualdade social. Um processo construído por meio da aliança entre o estado e a elite econômica, que impõe exigências, àquelas instituídas pelas políticas eleitorais e de governança, e que legitimam o status quo.  Foi o que aconteceu em Manaus, o isolamento social nunca se deu de forma efetiva, e brechas foram construídas para atender as exigências empresariais. O resultado foi a morte de mais de oito mil pessoas no Amazonas, até o presente momento.

Ressaltamos que a necropolítica promovida pelo governo Bolsonaro, cujos princípios ideológicos se baseiam na negação da ciência, da educação, da cultura e da vida dos mais pobres, acorda com extinção do povo trabalhador. O negacionismo tem que ser compreendido não por desconhecimento, ou ignorância, mas como uma estratégia que potencializa o poder da elite econômica brasileira, que sabe dos perigos do vírus, mas sabe como e onde tratar e está sendo vacinada de forma cruel e carregada de cinismo, a custa do dinheiro público. O negacionismo é também a consolidação da violência contra as crianças, lgbtqia+ e mulheres, do feminicídio, misoginia, machismo, racismo e o do heteropatriarcalismo.

Não fomos atingidos igualitariamente. Foi o povo trabalhador o mais penalizado, sofrido e menosprezados por nossos governantes. Foi a periferia que fez mais vítimas. Foram os povos indígenas, negros/as, mulheres, crianças, jovens e adultos pobres os mais atingidos/as por esta pandemia. Não temos dúvidas que as mortes de colegas poderiam ter sido evitadas, se não tivéssemos um governo limitado e desprezível sob o ponto de vista humano, que, de forma estúpida e aberrante promoveu uma política de morte comparada as políticas promovidas por governos fascistas e nazistas. É um genocídio e não há como negar.

Manaus entra para a história do século XXI como a cidade da morte, capital epicentro do coronavírus, um campo de concentração a céu aberto, que só no mês de janeiro matou mais de duas mil pessoas, cerca de cento e cinquenta por dia. Isso sem considerarmos os casos subnotificados. Nos falta alimento, oxigênio, o que, por si só, simboliza esse governo genocida. Morremos de fome e sem ar. E ainda teremos que enfrentar o problema das sequelas deixadas pelo Covid. Sair do quadro de infecção por este vírus é apenas um estágio da doença. O pós Covid deverá ser encarado como um problema de saúde pública. A doença deixa sequelas que precisam de tratamento das mais diversas naturezas e que implicam cuidados e assistência de saúde. E mais uma vez é o SUS que vai nos proporcionar esses cuidados.

Nestes termos, a construção do Memorial da Educação representa a nossa luta em prol de uma vida digna a todos/as brasileiros/as e, em especial, a de trabalhadores/as da educação, por uma sociedade digna, igualitária, inclusiva, justa e democrática. Esperamos encerrar esse Memorial o mais rápido possível, pois não suportamos perder mais colegas. Nossas vidas estão em perigo e precisamos lutar por elas, sem esquecer daqueles/as que partiram, honrando suas memórias, suas histórias e suas lutas por uma Educação de qualidade, pública, gratuita, laica e cidadã. POR ELES, ELAS, POR NÓS, LUTEMOS, HOJE E PARA SEMPRE!

Saudades Eternas

Manaus, 13.02.2021 (Lançamento oficial do Memorial da Educação do Amazonas)