Entrevista com os companheiros do Sindicato dos Químicos do SJC-São Paulo, “como é que é nossa luta de classe hoje dentro da fábrica”

A LIS entrevistou os companheiros Davi Paulo de Souza Junior e Reginaldo de Souza, membros diretores do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e região, e militantes da Corrente Sindical Unidos Pra Lutar e da Luta Socialista-PSOL.

Verónica: Bom dia companheiros. Davi e Reginaldo, integrantes do diretório do Sindicato de São Jose dos Campos, companheiros de Unidos Pra Lutar que estão representando hoje nesta entrevista com a intenção de compartilhar com a Liga Internacional Socialista uma experiencia que nós como corrente temos acompanhado e acompanhamos cotidianamente porque faz parte de uma grande experiencia aqui no cordão industrial do Estado de São Paulo, um dos mais importantes. E achamos que neste ano que se completam 58 anos de existência do Sindicato, recuperar sua história e sua atualidade é fundamental para fortalecer todas nossas lutas. Então, sejam benvindos e vamos começar com a primeira pergunta.

Vocês neste ano estão completando, não tenho a data concreta, mas estão completando 58 anos de existência. E eu vi um vídeo que vocês fizeram em que fazem um relato da história do sindicato e falam de um sindicato que, além de comprometido com as causas da categoria é um sindicato que se compromete com a classe operária de conjunto e internacionalista. Vocês poderiam nos contar porque se definem internacionalistas, o porque de essa questão que vocês levantam aí?

Davi: Primeiro que é um prazer, um prazer. Para a gente é muito gratificante e a gente agradece a oportunidade de estar socializando e discutindo com os companheiros ainda mais internacionalmente, eu acho isso muito importante. O sindicato tem essa questão internacionalista em dois víeis. Um pela questão que a gente trabalha em muitas empresas multinacionais então temos que entender sobre a questão internacional, por essas empresas também, que as matrizes são fora do Brasil.

Então nos temos que entender o internacionalismo encima disso, pela parte burocrática vamos dizer assim, mas principalmente nossa participação internacional é pela parte política. Que nós entendemos que entre os trabalhadores não tem que haver fronteiras em a luta de classes. Nós lutamos contra um sistema mundial que é o sistema capitalista e é o sistema que explora à classe trabalhadora. Então nesse sentido nos achamos muito importante a organização não somente da luta aqui dos trabalhadores brasileiros, mas também dos trabalhadores internacionalmente.

O sistema capitalista é muito unificado, então os trabalhadores temos que unificar também e fortalecer a luta que para a gente é muito importante ter essa luta internacional para enfrentar. E revolucionários como somos, não existe revolução em um só país, nós temos que organizar a classe para acabar com o sistema capitalista. Acho que é nesse sentido que a gente prioriza e defende muito o internacionalismo também dentro do próprio sindicato para poder dizer para os trabalhadores que a luta diante uma fábrica, diante de uma Compas ou uma Johnson é a mesma luta dentro de uma Johnson na Venezuela por exemplo.

V: Uma coisa que se combina com isso que você falou Davi, é a participação dos químicos na política. Eu vi que muitos de vocês foram candidatos e participam ativamente e fundamentalmente em correntes de esquerda, não conheço outras experiencias, mas na direção, no diretório, companheiros que militam em partidos de esquerda. Vocês podem falar sobre essa questão, sobre a vinculação da política com a questão sindical

D: Essa é uma estratégia da direita para justamente não deixar que os trabalhadores entendam realmente o que seria a política. Porque é um erro, um erro completo você não associar tanto a parte sindical como a parte política. Porque você organiza os trabalhadores para enfrentar o governo e o patrão, não tem como enfrentar o governo se você não estiver discutindo uma política encima disso, fazer uma política. Eu fui candidato, sou do Partido Socialismo e Liberdade e da Luta Socialista, sou presidente do PSOL de Jacareí. E aqui em nosso sindicato, a gente prioriza a discussão de conjuntura antes mesmo de falar de aumento de salário inclusive, antes de falar de uma participação de lucros numa assembleia, a gente fala da conjuntura atual. Denunciando o governo, trazendo estratégias, não adianta você só denunciar e não dar uma alternativa para os trabalhadores. Então você precisa se organizar politicamente, precisa dar a resposta política e politizar a classe. Justamente para ela poder ter mais esclarecimentos sobre o que vem sendo atacado. Combater uma reforma da previdência, combater uma reforma trabalhista, combater uma lei de terceirização. A gente discute, muitas empresas na mesa de negociação, ela traz a crise económica para negar uma PLR por exemplo.

Reginaldo: Sim, eu primeiro quero só me apresentar aqui. Obrigado pelo convite, eu acho que é importante o internacional porque isso mostra para lá fora como é que é nossa luta de classe hoje dentro da fábrica. Eu sou Reginaldo, trabalhador da empresa Compas, é uma empresa multinacional americana e sou dirigente do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos região e sou militante da Unidos Pra Lutar e da Luta Socialista, PSOL.

Quando o Davi coloca essa política, ela é extremamente importante, ela ser discutida na base, no chão de fábrica com o trabalhador. Se discutir política no pé da máquina com o trabalhador. Essa fortalece uma luta. Porque hoje o patrão, ele aplica política. Como numa negociação, como o Davi falou, a politica faz parte de nossa vida e é isso que a gente leva essa transparência para os trabalhadores.

V: Em relação justamente a questão da política. Existem distintas politicas sobre como atuar no movimento operário e na classe trabalhadora em geral e a história de vocês tem muito a ver com a disputa contra a politica da conciliação de classes. A CUT, e a saída dos químicos da CUT é uma parte de essa luta, ou dessa história. Podem nos contar alguma coisa sobre a história e a atualidade dessa disputa com os setores da conciliação de classes?

D: Nosso sindicato foi filiado na base da CUT, quando a CUT se tornou realmente numa Central Única dos Trabalhadores, com uma política muito a esquerda junto com o PT. E a CUT foi se organizando e ganhando muitos sindicatos, organizando muito a classe. Só que a CUT chegou um momento que ela se perdeu justamente quando o PT tomou o poder no nosso país. Quando Lula foi eleito, claro foi eleito no sistema capitalista, já colocando na carta ao povo brasileiro, colocando bem claro que não iria lutar pelo socialismo e também deixando bem claro que ele iria governar para todos. E quando você fala que vai governar para todos, você já traz uma representação de vamos conversar com todos, todos vamos ser amigos e vamos nos entender. E a CUT, base do PT e defendendo justamente a política deles para manter a base deles votando no PT, ela começou também a aplicar a política do próprio governo. E aí, se burocratizou e iniciou as negociações da conciliação de classes. Achar que o trabalhador tem que aceitar migalhas e nós temos que ser amigos do patrão. E nosso sindicato rompeu com a CUT, com a Articulação Sindical, que fazia parte, em 2000. A gente vai, tem uma disputa e nós tiramos a CUT de nosso sindicato.

Porque nos sabemos que temos lados, de quem explora e de quem é explorado. E não dá para você conciliar com quem te explora. E como fazer que a gente consiga que o patrão pague isso que realmente tem que pagar, sendo conciliador. Não, a exploração já não é conciliadora, por ser exploração. Então, nesse sentido nos temos muito desacordo com a CUT.

Então essa conciliação de classe infelizmente levou a CUT a fazer isso: à burocracia e claro, à influencia diretamente do governo do PT que precisava que os trabalhadores votassem e a política tinha que ser muito parecida, tanto para quem organizava a classe quanto para quem estava organizando o próprio governo. E quando você quer conversar com todos, aí você se perde na linha do classismo. Deixa de ser de uma classe e vai ser amigo de outra classe. Isso para a gente não tem como conciliar, tem que enfrentar quem nos explora justamente para garantir direitos e conquistar ainda mais. Se não for dessa maneira, no enfrentamento mesmo, na linha de classe, aí que os trabalhadores que perdem muito.

V: Podemos continuar falando sobre a CUT porque a seguinte pergunta que eu pensei foi sobre atualizar a situação que estão passando hoje os químicos. Porque estamos no meio de uma pandemia, com uma crise no sistema capitalista global muito grande e obviamente os governos de cada pais tentando aplicar essa crise sobre as costas dos trabalhadores e das trabalhadoras para continuar com o esquema de lucro de o 1% da sociedade que, como recém falou o Davi são aqueles patrões que são inimigos de nossa classe e que a única forma que eles tem de conservar seus lucros é manter um nível de exploração e ajuste. Então a pergunta tem a ver com isso, como hoje os químicos estão no meio dessa situação atuando, quais são as lutas mais importantes ou as principais que estão levando diante os químicos de São José dos Campos.

R: Sim, eu acho que é um cenário bem crítico que estamos sofrendo nessa pandemia. Mas desde o inicio da pandemia foi um desafio atuar, um desafio para nos. Esse cenário da pandemia, esse cenário de destruição em nosso país. Lembrando que estávamos e ainda estamos diante de um governo genocida, negacionista, homofobico. Um governo que vem de contra mão à classe trabalhadora e à população brasileira. Então a gente vê que esse governo, ele é um governo genocida, como coloquei aqui, um governo que não está pensando na população brasileira. Não está pensando na classe trabalhadora. Colocando medidas provisórias para reduzir salários dos trabalhadores, medidas provisórias para poder ajudar ao patrão, e em nenhum momento colocou uma medida provisória que ajudasse à classe trabalhadora, uma medida provisória que por exemplo colocasse assim: não aceitamos demissões durante o período de pandemia. Não teve essa medida provisória por parte do governo. Ao contrario, junto aos trabalhadores, exigimos estabilidade de emprego em varias empresas.

Tivemos varias lutas nessa pandemia. Logo no inicio da pandemia a Compas, a empresa que eu trabalho, que é uma multinacional americana, a gente já pegou no inicio da pandemia uma denuncia de trabalhadores infectados por Covid-19. Tinha 4 trabalhadores infectados. Imediatamente, uma política aplicada junto com a base, com a base articulada, ela trabalhada, a gente conseguiu fazer uma paralisação e exigimos da Empresa Compas uma testagem em massa que pegou trabalhadores e trabalhadoras, trabalhadores terceirizados e fez testagem em massa, ficamos lá três dias parados. Enquanto a empresa não fizesse essa testagem em massa a gente não saiu da porta da porta da fábrica. E assim foi feito e quando fez a testagem em massa, veio a surpresa,  tinha 24 trabalhadores infectados pelo Covid-19. Então, uma empresa de 240 trabalhadores podia ser muitas mais pessoas infectadas. E teve trabalhador que chegou ir para o hospital, tem trabalhador que chegou ficar na UTI. Então para a gente foi um marco de vitoria junto com os trabalhadores. Porque a gente conseguiu barrar isso e diante disso a empresa teve que respeitar o trabalhador e exigir a reivindicação dos trabalhadores.

Então enquanto isso a gente conseguiu nessa testagem em massa, depois levar isso para outra grandes multinacionais. Multinacionais grande como a Bayer que é a ex Monsanto que está aqui em São José dos Campos (SJC) no estado do São Paulo. Foi feito testagem em massa a traves de uma mobilização junto aos trabalhadores, fizemos uma greve na Bayer também que na pandemia queria demitir trabalhadores. Então esse cenário de lutas, desde o inicio da pandemia, ele não tem sido fácil como falei. Ele tem sido muito difícil, mas os trabalhadores estão dispostos a lutar pelos seus direitos e pela sua saúde.

Porque na verdade o que acontece é que os trabalhadores estão na linha de frente, ele está produzindo a riqueza da empresa, então ele está na linha de frente. Mas não é somente ele, é a família toda dele que está na linha de frente. É seus pais, seus filhos, sua esposa. Na Compas temos um trabalhador que foi infectado e passou para a família inteira. Então o nosso sindicato de aqui de São José dos Campos do estado de SP, ele esteve todo o tempo com esses trabalhadores nessa pandemia e estamos todo o tempo com os trabalhadores em essa pandemia. Porque a gente sabe o quanto um trabalhador sofre no chão de fábrica. Porque eu sou um trabalhador de chão de fábrica, o companheiro Davi é um trabalhador de chão de fábrica, então nos vivemos aqui a diferença do capital e de ser trabalhador. Sentimos na pele a exploração de um trabalhador de chão de fábrica.

E as lutas não foi somente pela testagem em massa, tivemos também aqui em SJC, estado de SP também, a TI-Brasil, que se aproveitando da pandemia decretou o fechamento da empresa com demissão em massa. Imediatamente também, fizemos essa luta na TI-Brasil de SJC, votamos o estado de greve e logo em seguida conseguimos um ano e meio de estabilidade de emprego para todos os trabalhadores, para que ninguém fosse demitido. E levando em conta que as empresas no ramo químico nessa pandemia, elas lucram fortunas. Fortunas essas empresas lucraram. E os trabalhadores, desde o inicio da pandemia na linha de frente. E nós temos que também aqui, dialogar com os trabalhadores para que nas campanhas salariais tem que exigir uma aumento real de salário. Nos temos que colocar junto com os trabalhadores também um abono salarial. Porque aqui em nosso país está todo caro, o trabalhador está sentindo na mesa dele o preço do arroz, o preço da carne, o preço do óleo, o preço da gasolina, então é esse cenário que os trabalhadores estão vivendo em nosso país, esse é o cenário de destruição da classe trabalhadora o que esse governo Bolsonaro vem fazer com os trabalhadores. Fora as medidas provisórias que esse governo vem colocando, a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, então é ataques encima da classe que somente a luta vai poder combater isso.

Também eu quero colocar aqui que defendemos uma campanha unificada com trabalhadores de industria, organizando multidões, organizando as bases, fortalecendo nossa luta no comando de greve, chamando uma greve geral em nosso país. Para que a classe trabalhadora vá para a rua. Que a gente consiga parar esse país e falar para esse governo Bolsonaro genocida que quem manda nesse país é a população brasileira, é os trabalhadores, porque sem esses trabalhadores, sem essa população que paga impostos, então nos temos o direito de exigir. Não devemos deixar esse governo acabar com os nossos direitos. Então é importante a convocação de uma greve geral, convocar junto aos ativistas da categoria. Mas eu quero aqui finalizar minha fala nesse ponto, convocando o movimento sindical. Acho que nos temos que convocar esse movimento sindical, movimentos populares, movimentos sociais para a gente poder dialogar, a gente tem esse diálogo aberto com os demais movimentos. O Brasil todo, temos que chamar o Brasil todo para nos apoiar para a gente poder derrubar Bolsonaro, para a gente poder derrubar esse governo genocida. E quero aqui finalizar esse ponto colocando aqui na minha fala o Fora Bolsonaro e Fora Mourão!

V: Vocês quiserem agregar alguma outra coisa para finalizar.

D: Acho que o que se precisa agregar é a continuidade da fala de Reginaldo. É organizar a população, organizar aos trabalhadores justamente para enfrentar esse governo, um governo que está mais perigoso que o próprio vírus. Então a gente tem que agregar sobre as manifestações que estão ocorrendo no país. O 29 de maio foi muito importante, o 19 de junho foi maior, eu acho agora que o 24 de Julio ela tem que ser maior ainda, e nos temos que nos organizar bem , organizar fortes, chamar os trabalhadores, chamar a todo o movimento para unificar e combater esse governo nas ruas, porque há necessidade de sair às ruas, há necessidade de fazer essas mobilizações, fazer assembléias, a gente fez uma assembléia antes do dia 19, o dia 18, a gente fez uma assembléia votando com os trabalhadores. Se você faz uma assembléia numa porta de fábrica, numa industria privada, justamente para votar uma manifestação sem falar de salários, sem falar de PLR, sem falar de nada especifico da fábrica, mas simplesmente uma assembléia política, para que os trabalhadores coloquem se concordam ou não com o Fora Bolsonaro e Mourão, e que a votação foi muito expressiva, muito bacana, é porque a gente está no caminho certo, o caminho correto.

Não podemos cair na idéia infelizmente da CUT de transferir a luta para 2022, pensar só em eleições. Não podemos fazer com que a classe caia nessa polarização Lula-Bolsonaro. Nós temos que criar alternativas e criar vontade de luta na classe agora, nesse momento para enfrentar tudo isso que vem acontecendo.

R: Eu só quero reforçar aqui no final que o dia 24J, vai ter o terceiro ato muito importante que estamos fazendo aqui no Brasil. Queremos convocar todo Brasil, a militância do mundo inteiro que nos apóia também lá fora. Os militantes da LIS, se puderam nos apoiar para divulgar sobre esse governo genocida, negacionista desse país. Precisamos derrubar esse governo e nós precisamos de todo o apoio, de toda a militância do mundo inteiro, para que se espalhe em outros países também, que esse governo está acabando com a classe trabalhadora e acabando com o povo brasileiro.

D: Eu queria só agregar e parabenizar à LIS pelos atos nas embaixadas, é muito importante, muito significativo fazer esses atos e que conseguiram unificar na Argentina com todos os movimentos. Foi muito bacan de se ver. Queria parabenizar aos companheiros, eu acho que dessa maneira, unificando toda luta, todos os lutadores que a gente vai fortalecer.

Eu quero agradecer, acho que foi muito boa essa entrevista, esse bate-papo de idéias, esse bate-papo de posicionamento, acho que deu para a gente se conhecer um pouco melhor. E realmente agradecer o espaço e aqui as portas sempre estarão abertas para os lutadores, a casa dos lutadores então sempre vai estar aberta para os lutadores. Eu acho que é sempre importante essa unidade, esse comprometimento com a luta de classe. Então sejam bem vindos aqui e quando quiser, só aparecer. E mais uma vez agradeço estar participando junto com os companheiros.R: Também queria fazer um agradecimento, obrigado pela oportunidade. Contem com a gente, estamos aqui para lutar. Eu acho que é uma luta unificada, ela nunca é mal vista. É muito bem vista porque a classe trabalhadora necessita uma unificaçãopara a gente poder lutar. Brigado.