Bolsonaro nunca mais!
Por Alternativa Socialista – PSOL, LIS- Brasil.
Ontem (30), Bolsonaro foi derrotado, demonstrando que metade do eleitorado disse basta a seu projeto de guerra contra a classe trabalhadora e setores populares. Lula ganhou por uma margem estreita de 1,8%, ou 2,1 milhões de votos, confirmando um cenário de forte polarização social no país. Uma nova etapa se abre onde os trabalhadores e o povo pobre deverão se organizar e lutar em defesa de suas conquistas e mais além, com independência política e ganhando as ruas, porque só assim podemos avançar a favor das maiorias, sem confiar em nenhum governo a serviço dos interesses do 1%.
O povo nas ruas comemora a derrota de Bolsonaro
Assim que a vitória de Lula foi confirmada, o povo tomou as ruas em massa. Foi expresso o júbilo popular pela derrota de Bolsonaro, responsável por mais de meio milhão de mortes na pandemia de Covid-19, pela destruição da Amazônia e do meio ambiente, pelos constantes ataques à educação, saúde e tudo o que é público. Um miliciano determinado a derrotar as conquistas democráticas do povo brasileiro e inimigo das mulheres, do povo LGBTQIA+, dos povos indígenas, dos negros. Em resumo, as ruas estavam lotadas de um povo que comemorava uma importante vitória.
O dia seguinte e os editoriais da mídia burguesa
“Lula precisa dar mostras imediatas de responsabilidade orçamentária e disposição de rumar ao centro, política e economicamente. Deve se cercar de especialistas e quadros qualificados, para além do raio estreito do partido e de aliados à esquerda.”. (Editorial do jornal Folha de São Paulo).
“Qual Lula governará? O social-democrata da primeira metade do primeiro mandato? Aquele que defendeu um ajuste fiscal de longo prazo capaz de reduzir a dívida pública, aumentou o superávit primário, promoveu reformas para melhorar o ambiente de negócios, aperfeiçoou instrumentos de crédito e reduziu restrições à concorrência no setor privado? Ou o nacional-desenvolvimentista que veio em seguida?” (Editorial do jornal O Globo)
Além dos gestos que já havia feito na campanha, Lula expressou seu compromisso com a “unidade e a paz entre os brasileiros”. Se comprometendo com empresários e empresas para realizar seus lucros em um “Brasil que volte a produzir, reconstruindo um capitalismo sério”, como ele repete constantemente em seus discursos e declarações. Alckmin, o Tucano filiado ao PSB e encarregado da “transição econômica” no novo governo, a mdbista e empresária do agronegócio Simone Tebet, o neoliberal Henrique Meirelles e uma equipe de economistas, são alguns dos nomes mencionados para ocupar os principais ministérios e cargos governamentais. Em outras palavras, o Lula do futuro terceiro mandato parece se ajustar à medida que a burguesia exige moderação e governabilidadd para “melhorar o ambiente de negócios”.
O editorial de O Globo de hoje também diz: “Ele está lá não só porque é Lula, mas sobretudo porque não é Bolsonaro”, uma mensagem clara para o novo governo que está surgindo e que conta com um apoio circunstancial impulsionado pela ausência da terceira via desejada que não foi e que se baseia em um fato concreto, Lula e o PT estão longe de ser aquela direção de massas que apaixonou o povo brasileiro nos anos 1990. O próximo período mostrará se Lula é ou não capaz de responder à demanda empresarial de disciplinar os 99% com base num novo pacto de conciliação de classe e paz social a serviço do lucro do 1%.
Organizar a luta para derrotar a extrema-direita nas ruas!
Muito tem sido dito, e ainda está sendo, sobre a possibilidade de uma aventura golpista por parte de Bolsonaro e sua gangue de extrema-direita. No domingo da própria eleição, o bolsonarismo orquestrou uma operação da Polícia Rodoviária Federal, parando ônibus com eleitores Lulistas na região nordeste, principal área eleitoral do presidente eleito, mas não conseguindo ir tão longe e a eleição foi adiante normalmente. A realidade é que não houve nenhuma tentativa de golpe, apenas os discursos eleitorais fervorosos de Bolsonaro que não foram além das ameaças bem recebidas pela base bolsonarista que se reuniu para rezar e chorar na porta do Palácio da Alvorada, enquanto o presidente derrotado apagou as luzes e foi dormir sem querer falar com ninguém.
Naturalmente, isto não significa não ver o perigo que representa a existência da extrema-direita bolsonarista, que agora governa o estado de São Paulo (o maior do país e o centro econômico nacional), a maior bancada parlamentar e quase 50% do eleitorado. Por esta razão, e como sempre defendemos, é necessário derrotar Bolsonaro com a luta dos trabalhadores e do povo pobre nas ruas. Derrotar este governo nas urnas foi necessário e isso fortalece os explorados e oprimidos, mas isso não pode ser separado da necessária construção de luta e mobilização popular em defesa das conquistas, para recuperar os direitos que perdemos e avançarmos com mais ganhos.
Lula cede à direita e ao bolonarismo, desmobilizando e chamando à confiança na institucionalidade burguesa, por isso é fundamental fortalecer a mobilização, ocupar as ruas e não se confundir com os cantos de sereia social-democratas.
À esquerda, com independência de classe e um programa socialista.
Agora o desafio é organizar toda essa força popular expressa nas comemorações, retomar as ruas e finalmente derrotar o bolsonarismo, defender nossas conquistas e enfrentar qualquer tentativa de ataque, seja da extrema-direita bolsonarista ou do governo de unidade nacional que surge com Lula e Alckmin à frente. Eles certamente (como fizeram nos governos anteriores) vão pedir “paciência” e “esforços” ao povo trabalhador, não criticar o novo governo em nome da “unidade nacional” para impedir que a extrema-direita e Bolsonaro voltem ao poder.
Este é um desafio que vai colocar tensão nos debates do amplo espectro do progressismo brasileiro, como acontece com aqueles social-democratas que se adaptaram às margens do regime democrático burguês do Estado capitalista e que governam a serviço do status quo, ou aqueles que defendem a hipótese reformista de “mudar as coisas de dentro” e se assimilam à institucionalidade burguesa, formando governos de conciliação de classes, uma discussão que ocorrerá nas fileiras do PSOL, o partido que estamos construindo.
Estamos entrando em um momento crucial no PSOL. Foi correto chamar o voto em Lula no Segundo Turno eleitoral, mas a recusa de apresentar candidatura própria no Primeiro Turno, tanto para a presidência como para governador em estados importantes como São Paulo, foi um grave erro da direção majoritária que enfraquece o partido. O PSOL foi diluído atrás de Lula e do PT e desapareceu como uma alternativa à esquerda para as massas. E agora, mais do que nunca, temos que nos preparar para ser uma oposição de esquerda, levantando um programa a serviço do povo trabalhador e não para conformar um governo patronal. Portanto, este não é apenas mais um debate, é um debate fundamental que irá definir a continuidade ou não do Partido Socialismo e Liberdade.
De nossa parte, continuaremos a defender e construir uma alternativa política de esquerda independente, que intervirá nas lutas que os explorados e oprimidos travam diariamente e, desta forma, disputaremos o poder e conquistaremos um governo daqueles que nunca governaram, os trabalhadores e o povo pobre. Só assim conseguiremos pôr um fim à extrema-direita, a direita liberal que se fantasia de centro e qualquer governo que tente atacar nossos direitos e conquistas. É com este objetivo que construímos a Liga Internacional Socialista, a LIS, no mundo e no Brasil, onde estamos avançando firmemente com o surgimento de um novo projeto unitário e revolucionário que está sendo consolidado no Comitê de Enlace entre Alternativa Socialista e Luta Socialista, correntes internas do PSOL. Hoje celebramos esta vitória, mas não paramos por aí e seguimos por mais!