Não foi uma pré-candidatura do PSOL

Em reunião do Diretório Estadual do PSOL Ceará realizada no último dia 3, a Primavera, levando a cabo sua política de ser o último vagão da frente ampla burguesa, decidiu retirar a pré-candidatura de Adelita Monteiro para Governadora, entregando o partido nos braços de Elmano (PT) e Eunício Oliveira (MDB). Além da tragédia de defender tudo, menos o próprio PSOL, de forma consciente tentou impedir a pré-candidatura do companheiro indígena Paulo Anacé ao Senado sem o consentimento do mesmo.

A pré-candidatura de Paulo Anacé, progressivamente na defesa dos povos indígenas em um estado tão marcado pela descendência direta de nossos povos originários, ao longo dos séculos expulsos de seus territórios, sofrendo o etnocídio contra sua ancestralidade, teve seu direito de pré-candidatura barrado pela política da Primavera que, sem justificativa alguma a não ser o oportunismo, decidiu apoiar a pré-candidatura a Senado de Camilo Santana (PT), ex-Governador do Ceará, e impediu numa votação em bloco o companheiro Paulo Anacé de sequer disputar seu direito legítimo na Conferência Eleitoral. Um absurdo antidemocrático completo, felizmente revertido após pressão coletiva na EN.

Adelita, da corrente Primavera, anunciou em suas redes sociais seu apoio à candidatura de Elmano a governador, Camilo ao senado e, evidentemente, Lula presidente. Após mover grande parte da militância do PSOL Ceará com a política de candidatura “própria”, decidiu após encontros com o PT, sem diálogo algum com a base do próprio partido, abandonar a pré-candidatura, deixando grande parte do PSOL desorientada.

Combater Capitão Wagner e Roberto Cláudio com Eunício?

Nas eleições do Ceará se apresentarão, por um lado, a candidatura bolsonarista de Capitão Wagner (UB), que deve ser assim como o parasita no Planalto, fortemente combatida com unidade de ação das organizações nas ruas e; por outro, o coronelismo mudancista dos FGs representado por Roberto Cláudio (PDT), ex-governador de Fortaleza, inimigo dos trabalhadores. O que o campo majoritário do PSOL, a Primavera e também o Campo Semente, “esquecem” de dizer com o discurso de unidade da “esquerda”, é o quão danoso pode ser o pacote da candidatura de Elmano (PT) com Eunício Oliveira (MDB), ruralista milionário que fez carreira empresarial na segurança privada no Ceará lucrando com o caos da segurança pública, até algum tempo entusiasta de Capitão Wagner e apoiador do golpe institucional de 2016.

Não podemos, evidentemente, deixar de perguntar: como combater a política miliciana no Ceará, bolsonarista, direção do motim reacionário de grupos da PM em 2020, as chacinas nas periferias? Estando ao lado de Eunício? Provavelmente da mesma forma como “esqueceram” do tucano fora do ninho Alckmin na chapa de Lula, Eunício certamente também passará despercebido no pacote com Elmano.

Refundação e linha auxiliar da refundação do PSOL

Do Campo Semente, a Resistência, consequente em ser conselheira de esquerda da frente ampla burguesa e linha auxiliar da refundação, após tentar convencer Lula/PT de que o tucano Alckmin não seria uma boa escolha para a chapa e, evidentemente sem resposta alguma, aceitarem o pacote Lula-Alckmin, publicaram um artigo em 28 de julho chamando uma frente de esquerda com Elmano e sem Eunício, suplicando “se o PT novamente optar pelo MDB de Temer em vez de uma frente de esquerda, deixará a esquerda dividida e o PSOL deverá homologar candidatura em sua convenção”.

Qualquer desavisado pensará que essa corrente cumpriu a tarefa de disputar pela frente de “esquerda”. A menos que esteja informado sobre, primeiro, a presença de Eunício no acordão, indicando um nome a vice para Elmano, foi articulado e fechado pelo próprio Lula; segundo, mesmo assim o PSOL aprovou em convenção o apoio a Elmano-Eunício com acordo político da própria Resistência. Com tudo isso, toda “disputa” dessa corrente não é mais que letra morta para constar e tranquilizar a consciência.

Nos solidarizamos com o companheiro Paulo Anacé e defendemos seu direito e importância a candidatura ao Senado. Compreendemos que este ataque é resultado da política liquidacionista do campo majoritário do PSOL em ser parte, no último vagão, da frente ampla burguesa com Lula-Alckmin e no Ceará com Elmano-Eunício. Defendemos desde o último Congresso Nacional, em 2021, a necessidade do PSOL ter candidatura própria (sendo impulso à frente de esquerda classista) a partir do camarada Glauber Braga até as candidaturas majoritárias estaduais.

No Ceará, o PSOL com Elmano e Eunício, independentemente da escolha para vice, estará em tudo, menos numa frente de esquerda, conclusão da própria Resistência, “Se o PT busca Eunício Oliveira, a frente não é de esquerda. Logo o programa de governo dessa frente não atenderá às necessidades mais sentidas da ampla maioria da população cearense”. Aliança consumada antes do “Se”.

A ex-pré-candidatura ao Governo com Adelita não teve, enquanto existiu, compromisso com o PSOL de luta e radical. Como resultado da política regressiva da Primavera de refundação de nosso partido, seguirá de reboque a tudo que for aprovado pelo PT com a desculpa de “derrotar Bolsonaro”. Nada mais enganoso. Não existe nessa corrente a vontade de derrotar Bolsonaro nas ruas, mas de baixar a cabeça à costura de um acordo pactuado no andar de cima pela transição via eleições e, principalmente, negociar alguma vaga na frente ampla burguesa. O melhor exemplo disso, para ficarmos em um, é a suplência da pré-candidatura ao Senado de Marcio França em São Paulo para Juliano Medeiros, da Primavera e Presidente nacional do PSOL.

Após a aprovação em Convenção da candidatura do companheiro Paulo Anacé ao Senado pelo PSOL, a Primavera seguirá no apoio ao Camilo?

O PSOL nasceu para ser um instrumento de reorganização da esquerda saída do PT após as traições desse partido quando esteve no governo. Hoje, com Bolsonaro e a extrema-direita no governo, deveria ser parte da luta pela unidade de ação nas ruas contra o perigo dos ataques impopulares e antidemocráticos. Mas ser impulsionador da unidade não significa obliterar-se de disputar nossa classe para resolver os problemas urgentes que estamos sofrendo com Bolsonaro, com um programa próprio, sem abandonar esta disputa, entregando-a de bandeja à frente ampla burguesa Lula-Alckmin e Elmano-Eunício no Ceará.

De nossa parte, enquanto Alternativa Socialista, corrente do PSOL, jogaremos a força que temos para construção de um calendário nacional unificado de lutas, que já se inicia no dia 11 de agosto, para impor a saída de Bolsonaro nas ruas e não pela contagem regressiva das urnas, começando pela defesa do Grito dos Excluídos: Fora Bolsonaro no dia 7 de setembro. Não podemos nos acovardar frente ao bolsonarismo, o momento urge.