Acordão no andar de cima: a “boiada” tenta passar no meio da crise e da pandemia

Nos aproximamos da desastrosa marca de 100 mil pessoas mortas pelo Covid-19 e quase 3 milhões infectadas, além da média de mortes por dia ainda acima de mil. Nesse cenário criminoso, o genocida Bolsonaro, Mourão, seus ministros, Maia, Alcolumbre e todos os partidos e líderes políticos que hoje governam, definem um presente e futuro de ajustes e pobreza para 99% da população brasileira.

Ao mesmo tempo, descobrimos que entre 18 de março e 12 de julho deste ano, os ativos de 48 bilionários brasileiros cresceram de US$ 123 bilhões para US$ 157 bilhões. Em outras palavras, em meio a uma pandemia, US$ 34 bilhões foram ganhos por apenas 48 pessoas, uma parcela ínfima de um total de aproximadamente 210 milhões que habitam o Brasil. Cerca de US$ 700 milhões para cada um desses 48 bilionários contra US$ 115 (R$ 600,00) que 64 milhões de famílias recebem através da Renda Brasil.

Eles chamam de “auxílio emergência” e a verdade é que é exatamente isso que eles querem, uma ajuda para sair da pior crise econômica e social desde décadas. Eles tem pavor de uma possível revolta dessas centenas de milhões de pessoas em resposta às suas políticas de guerra. Dessa forma, começaram a falar sobre a manutenção do auxílio por apenas 3 meses, posteriormente tiveram que prorrogá-lo por mais 2 meses e agora discutem a manutenção de um auxílio permanente entre R$ 250 e R$ 300. Isso deu um respiro ao governo que esteve à beira do precipício por várias semanas. Mesmo assim, a dinâmica da crise não se encerrou.

O papel do parlamento

Maia e Alcolumbre, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado respectivamente, funcionam como uma verdadeira equipe do governo. O líder do PSD no Senado, Otto Alencar, em entrevista ao jornal Folha de SP, disse: “Acho correto e viável que haja um entendimento entre o Davi e o Rodrigo para que possam designar um relator de cada Casa para formarem um parecer que já chegou redondo”. O que eles tentam formalizar e ordenar já está funcionando na vida cotidiana. Bolsonaro é uma figura que atua como presidente e ainda se faz necessário para concluir as tarefas pendentes. Nas palavras de Maia: “o governo perde oportunidades de implementar a agenda econômica de reformas com a qual foi eleito em 2018” (O Globo, 03/08/2020). As fraquezas de Bolsonaro são muitas para cumprir sua promessa eleitoral, então a ajuda do regime político burguês é de vital importância  na pretenção de “passar a boiada” enquanto milhares morrem por dia de Covid-19.

Nesse sentido, o acordão é: Maia/Alcolumbre seguram por interesse próprio Bolsonaro e tentam tocar as reformas. Ao mesmo tempo, o judiciário também disputa o comando da ordem. Mesmo recuado, Bolsonaro segue seu plano de destruir o que for possível por suas mãos. Modifica normas e regulações ambientais, ainda avança na destruição de terras indígenas, entregando ao submundo do garimpo e das invasões; insiste em manobrar politicamente a legalização ou o maior acesso ao porte de armas, mesmo sendo barrado em seu objetivo final. Sua política reflete a relação que mantém com os porões da ilegalidade. Nesse enredo, os que sustentam Bolsonaro fecham os olhos para todas as atrocidades que seguem.

Lula livre… para fazer campanha

O PT e o grupo de partidos chamados “esquerda”, ou “progressista”, entraram na corrida eleitoral de 2020 e 2022, mais uma vez demonstrando seu compromisso com a institucionalidade e a governança de um regime e governo de fome, doença e morte. Nada de novo ou de bom podem apresentar, sequer a mesma receita que ofereceram durante seus 12 anos de governo federal e, em seus últimos anos, com a cara da austeridade – aplicada hoje nos Estados que ainda governam. Eles competem para liderarem uma frente ampla na qual a “esquerda” e parcela da direita, as consideradas “oposição” ao Bolsonaro, estarão unidas.

Esse projeto fracassado de conciliação de classes para garantir os lucros capitalistas vira as costas aos milhões que sofrem com a pobreza, a fome e as consequências da crise da saúde. Mesmo assim os trabalhadores que, apesar da insegurança no emprego e do perigo de demissões, saem e lutam porque as únicas opções disponíveis são morrer de Covid-19 ou de fome.

Lutas contínuas de categorias

Muitas e muitos lutam para evitar o fechamento de uma fábrica, barrar um corte salarial ou exigir condições de trabalho decentes, entre muitas outras reivindicações que acompanhamos constantemente. O principal problema que todos enfrentam é o mesmo: líderes sindicais ausentes. As principais centrais sindicais, sob a liderança política do PT e do PCdoB, recusam-se a implementar um plano real de lutas que unifique e fortaleça as categorias.

Alguns dias atrás, os metroviários de São Paulo colocaram em xeque o governo de direita de Doria. Em uma assembleia massiva por uma grande maioria, votaram por uma greve geral para interromper o principal meio de transporte na maior cidade do país, e segunda maior da América Latina. Mas, poucas horas depois da política aprovada, a liderança sindical (CBT/PCdoB e CUT) atropelou a vontade de muitos após uma ligação do governo oferecendo uma proposta de acordo. Infelizmente os companheiros do PSTU, direção da CSP-Conlutas, seguiram a mesma linha. É um fato deprimente que mostra a força e a vontade de lutar por partes da base mas, ao mesmo tempo, a traição de seus dirigentes.

A esquerda radical como alternativa

O ar que oxigena o governo Bolsonaro enfraquecido é sustentado com grande fragilidade. O malabarismo desesperado de Paulo Guedes para legalizar um novo ataque à classe trabalhadora pela Reforma Tributária encontra obstáculos a cada passo. Do projeto original de reforma integral, passou a modificar as porcentagens de alguns impostos favorecendo os empresários. Mas, o ruído da agitação social funciona como um alerta para frear todas as suas intenções. Mesmo assim, Guedes segue o plano de avançar e fortalecer acordos com os representantes do capital para atacar nossos direitos.

Hoje, mais do que nunca, não podemos permitir que o “mal menor” ganhe como projeto político. Nem frentes amplas com a direita, nem frentes com “progressistas” que governam para o capital são uma saída. Infelizmente, camaradas de nosso partido, PSOL, estão escolhendo este caminho, cometendo um grave erro que, se continuarem, alimentarão uma nova decepção nas bases que apostam em um projeto independente e socialista, fugindo da degeneração e traição do PT/PCdoB.

Nós da Alternativa Socialista estamos comprometidos em somar na construção de uma forte alternativa política unitária da esquerda radical. Fazemos um chamado ao conjunto de organizações e militantes que, como nós, nunca abandonaram a luta por um governo das e dos trabalhadores e do povo pobre. Para isso, é preciso construir o primeiro passo unificando as lutas para a derrubada do governo Bolsonaro e Mourão.

O momento exige que sejamos militantes organizados. Convidamos você a somar nessa ferramenta socialista, feminista, ecossocialista, radical e internacionalista para transformar tudo!

*Creditos da foto de portada: Marcos Corrêa