A industria agropecuária e o negócio da fome

Por João Pedro Ambrosi dos Santos e Verónica O’Kelly – Alternativa Socialista-LIS, Brasil.

Estamos vivendo uma grande crise climática e o mundo tem apresentado os sintomas por estar sendo degradado. As crises são geradas pelo impacto ambiental, causado pela forma de produção capitalista, impactando diretamente no dia a dia dos seres humanos. No sistema capitalista a vida dos mais pobres é afetada primeiro, temos diversos incidentes climáticos matando e deixando pessoas residentes das periferias em situação vulnerável, sofrendo o desastre ambiental provocado pelo capital.

As crises climáticas estão ligadas diretamente à forma de produção capitalista, entender qual o motivo dos impactos ajuda a desconstruir a cadeia de produção e achar a raiz do problema.

A indústria agropecuária é responsável de quase o 97% da área desmatada no Brasil

As queimadas na Amazônia aumentaram 96% em maio deste ano em comparação com o mesmo mês de 2021 (Fonte Poder360)

Hoje cerca de 97% da área desmatada do país é usada pela indústria agropecuária, indústria essa que não gera emprego e que acaba tomando terras de trabalhadores, indígenas, quilombolas, entre outros, provocando zonas liberadas para grupos militarizados que assediam, perseguem e assassinam constantemente os moradores delas. Todas as pessoas que antes estavam nas terras são substituídas por gado, porcos e galinhas. Muitas vezes a substituição não é direta pelos animais, mas é feita para plantar soja, milho e outros grãos. A maior parte destes grãos são usados para alimentação animal, usado diretamente para produção de carne.

Quando pensamos no impacto ambiental causado, não temos como não considerar a indústria da Agropecuária como uma das principais inimigas, por ser a que mais desmata nossas floretas. Essa indústria gera impactos diretos e indiretos tanto no meio ambiente quanto no cotidiano da sociedade.

Quanto maior a produção de alimentos, maior é a fome no país

O Brasil produz alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas e mesmo assim vemos a fome crescer de forma galopante em território nacional. Grande parte deste alimento produzido não é para seres humanos, por exemplo a soja que alimenta porcos na China. Temos que enxergar a Agropecuária monopolista de terras como a inimiga da classe trabalhadora, produzem alimentos que exigem muito dos nossos ecossistemas e quem paga essa conta é a camada mais pobre da sociedade. O “desenvolvimento” industrial capitalista é lucro para poucos e contaminação, fome e morte para as maiorias.

O agronegócio e o extrativismo são políticas de Estado. Os governos dão grandes isenções tributárias e deixam de fiscalizar o desmatamento, agravando cada vez mais o tamanho do problema ambiental. As políticas dos diferentes governos, até aqui, foram extrativistas e dirigidas a favorecer as corporações nacionais e multinacionais da indústria alimentícia, e em especial da agropecuária. Se trata de uma indústria que provoca um enorme impacto ambiental negativo, e também um desperdiço de trabalho social utilizado já que não responde às necessidades e capacidades sociais, e sim à vontade de lucro empresarial capitalista. O circuito da soja que se produz nas terras desmatadas da Amazônia, transportada por milhares de caminhões até os portos e enviada à China, onde alimentará os porcos que produzem alimentos a ser comercializados na mesma China e no mundo inteiro (ainda no Brasil), significa um ilógico processo de produção de alimentos que, não só não alimentam, senão que aprofunda a contaminação e destruição ambiental. A lógica extrativista é perversa e reproduz a desigualdade social de classes, aprofundando o colonialismo e a dependência com o poder capitalista- imperialista hegemônico.

Contra a indústria Agropecuária, o ecossocialismo é a única solução

Lutar contra a indústria Agropecuária é lutar pela soberania alimentar, pela distribuição de terras entre aqueles que nelas vivem e trabalham, pelo fim da exploração de animais humanos e não humanos. Por um processo de produção de proximidade, onde a produção de alimentos respeite a lógica natural das condições ecológicas de cada lugar, e que através de um processo democrático de consulta e decisão comunitária, se decida que e como produzir respondendo às necessidades sociais. Pelo fortalecimento da produção orgânica, livre de agrotóxicos e transgênicos, com financiamento estatal que permita. Como dizem os companheiros e companheiras da Rede Ecossocialista da Argentina: “A agroecologia deve deixar de ser considerada apenas como uma alternativa: é a maneira de começar a retraçar o caminho da fome e da dependência alimentar e de valorizar o trabalho agrícola. E os governos devem garantir o acesso à terra para aqueles que a habitam e cuidam dela”.1

“O ecossocialismo é uma estratégia revolucionária de convergência com os trabalhadores, com lutas sociais, de gênero, anticolonialistas e antirracistas contra o capitalismo inimigo comum. O ecossocialismo também é uma crítica ao produtivismo de esquerda que a URSS realizou e que infelizmente as correntes dogmáticas de esquerda continuam com esse mandato”.2

Em síntese é uma luta da classe trabalhadora, que vive nas margens dos grandes centros financeiros e acaba sofrendo muito com o impacto ambiental causado por uma produção predatória que coloca o lucro acima da vida.“Nós Ecosocialistas sustentamos que esta crise também representa a possibilidade de avançar em direção a outra economia, e abre o caminho para a transformação da matriz produtiva, transição energética, agroecologia, com controle do comércio e dos bancos, gerando vínculos com o resto dos países devedores, abrindo a democracia para um planejamento social da produção onde as comunidades são quem decidem o quê, como e quanto produzir de acordo com suas necessidades e não para os lucros capitalistas imperialistas”.3

Nós, militantes ecossocialistas da Alternativa Socialista, seção brasileira da Liga Internacional Socialista, construímos uma ferramenta política anticapitalista, ecossocialista e internacionalista, porque não aceitamos que nos roubem o futuro. Porque somos presente de luta e organização, vem com a gente!

1https://periodismodeizquierda.com/colapso-climatico-salvemos-el-planeta/

2Idem nota 1

3Idem nota 1