PT com Arnon Bezerra e PSL bolsonarista: aprender ou não as lições?
Por Alternativa Socialista
Existe uma ideia de que “há horas que valem por dias e dias que valem por semanas”. A convenção do PTB de Juazeiro do Norte/CE, que homologou o projeto de reeleição do atual Prefeito, Arnon Bezerra, foi um desses momentos decisivos e esclarecedores. O espetáculo montado surpreendeu pela conformação de uma coligação com o PT, indicando Gabriel Santana pra Vice de Arnon, incluindo ainda o PSL do Deputado Federal bolsonarista Heitor Freire, PMN e PP, recentemente ingressado na base de apoio de Bolsonaro.
Gostaríamos de iniciar este debate sincero com um chamado aberto à base do PT – militância e apoiadores – e aos demais companheiros que opinam ser insustentável esta aliança, para que venham somar ao PSOL na construção de uma alternativa de esquerda e socialista para nossa cidade. O momento agora é de reagir e construir um espaço democrático, fraterno e de luta.
A aliança formalizada nesse último domingo, 13 de setembro, deixou público o desconforto de parte do PT com a presença da extrema direita que des-governa o país. A situação é tão complexa e vexatória que ofuscou outra questão fundamental: a candidatura de Arnon Bezerra, do PTB de Roberto Jefferson, mais um corrupto da base do governo Bolsonaro, representa algo de progressivo?
O próprio Heitor Freire (PSL), vendo a repercussão negativa, se disse “surpreso” e avisou que retiraria oficialmente o PSL da chapa, mesmo a direção local fazendo questão de demonstrar seu respeito à candidatura de Arnon. A direção do PT, por sua vez, preferiu o silêncio. A aprovação do apoio ao atual Prefeito veio da Executiva Nacional, mas ficou evidente o quanto a Direção Municipal trabalhou pra viabilizar essa coligação oportunista.
A política local do PT
O marco político conformado na candidatura majoritária PTB–PT não é de um projeto da maioria do povo. Trata-se de mais uma dança de cadeiras por cargos. A dependência das lideranças petistas, que fazem de tudo por um cargo em qualquer governo, deixa todo o partido submisso ao Estado capitalista, constrange e desmoraliza a base nos movimentos sociais. O PT não consegue mais sobreviver com o esforço de sua militância e um projeto independente da estrutura oferecida pela “democracia” dos ricos.
Este tipo de aliança ampla, que o PT participa, não é exatamente uma novidade. Nas eleições de 2008, por exemplo, a candidatura eleita de Manoel Santana aceitou o apoio do então Prefeito tucano Raimundo Macêdo, contra a chapa do ex-Prefeito Salviano. Em 2012 o jogo inverteu com o apoio de Salviano aos petistas. Mesmo assim, a chapa foi derrotada pelo ex-aliado de última hora, “Raimundão”. Em 2016, o PT compôs oficialmente a candidatura do empresário Gilmar Bender (PDT), ao mesmo tempo em que mantinha relação com o adversário eleito, Arnon Bezerra, assegurando cargos na gestão municipal até hoje. Este ano, Bender decidiu embarcar no mesmo vagão da candidatura de Gledson Bezerra (Podemos), apoiado por um setor do bolsonarismo. Estes giros mostram os limites do projeto petista, que não conseguiu romper com a política das famílias privilegiadas que controlam a cidade.
A extrema-direita
Aproveitando essa crise, a extrema-direita brasileira, hoje representada pelo bolsonarismo, que aplica uma política de guerra contra a classe trabalhadora e o povo pobre, tenta se colocar localmente como “novidade” à atual gestão, apoiando a candidatura do então Vereador Gledson Bezerra, que sempre iniciou seus mandatos na base de apoio das gestões municipais e hoje compõe o Podemos, partido favorável a 92% dos projetos enviados por Bolsonaro à Câmara dos Deputados. A chapa ainda traz como candidato a vice o atual vice-Prefeito da cidade. Este é o lamaçal da mesmice: alianças e rupturas baseadas nos interesses individuais, de costas para o povo.
O bolsonarismo também não está unificado. Desde a ruptura nacional entre o PSL e Bolsonaro, os dois grupos, juntos pelas reformas impopulares, lutam de forma intestinal por espaço. Em Juazeiro do Norte não é diferente. Um setor apoia a chapa de Gledson e outro setor, ligado ao PSL de Heitor Freire, apoia a reeleição de Arnon Bezerra.
Todo este cenário tragicômico só evidencia como devemos intervir no espaço eleitoral para mobilizar contra a extrema-direita reacionária, denunciando e preparando a derrota do bolsonarismo. Ao mesmo tempo, é preciso não cair no autoengano de que isso ocorrerá somente pelas eleições locais. O ressurgimento de peso do reacionarismo é um fenômeno mundial que surfa na crise do capitalismo e na crise brasileira. Será derrotado por completo com unidade de ação que tenham um objetivo claro e consequente. Podemos e temos a obrigação de aproveitar todos os espaços para mobilizar.
Quais as lições e o que fazer
A história política de Juazeiro do Norte é marcada pelo revezamento das candidaturas familiares coronelistas e clientelistas – hoje, com “nova” roupagem. Do mandonismo de uma minoria sobre o futuro da classe trabalhadora e do povo explorado e oprimido. Nesse sentido, o problema não se concentra somente na atual gestão municipal, está preso a uma corrente que ainda não foi quebrada e segue espoliando a maioria da população.
Para romper com esta lógica devemos colocar nas ruas um bloco da esquerda socialista que não se vende e nem se rende. Que não tem medo de intervir nas feridas abertas e propor uma alternativa para sair dessa situação.
Nós, da Alternativa Socialista, que construímos o PSOL, reforçamos o chamado a todas e todos que estiveram nas ruas da cidade e do país nesses últimos anos, contra as reformas impopulares, a virem construir conosco uma alternativa da esquerda socialista, unificando em um espaço democrático, fraterno e decidido na luta contra a extrema-direita, o novo coronelismo e o ultra-neoliberalismo. Vamos!