PSOL define “não compor o governo” Lula-Alckmin, mas ser base de apoio. A encruzilhada continua
Por Comitê de Enlace: Luta Socialista/Alternativa Socialista/Liga Internacional Socialista
O Diretório Nacional do PSOL decidiu pela “não ocupação de cargos no Governo” da Frente Amplíssima Lula-Alckmin. Essa foi desde sempre a posição do Comitê de Enlace da Luta Socialista/Alternativa Socialista/LIS, sem as ambiguidades aprovadas, e representa a vitória da independência do partido. Mas isso foi acompanhado de uma afirmação equivocada de ser base de apoio do próximo governo. Assim, a resolução votada no ultimo Diretório Nacional (DN), é uma declaração política que capitula ao projeto da conciliação de classes, um absurdo chamado à confiança e apoio a um governo burguês de unidade nacional.
O campo “PSOL Popular”, dirigido pelas correntes Revolução Solidária e Primavera Socialista, representadas por Guilherme Boulos e Juliano Medeiros, respectivamente, pela falta de maioria, se viu obrigado a votar numa resolução que diz: “o PSOL não ocupará cargos no próximo governo”. Isso aconteceu porque seus aliados do campo “PSOL Semente”, composto pelas correntes Resistência, Insurgência e Subverta (as três vinculadas à internacional mandelista), se negaram a compor governo com a burguesia, demonstrando, mesmo com a política de suporte do liquidacionismo, um mínimo de lucidez. Assim, a direção majoritária, sem conseguir a maioria dos votos, se viu obrigada a tomar essa definição no último DN. Voltaram a selar o acordo com o campo Semente, conseguindo maioria na direção para votar uma resolução comum. Resolução essa, equivocada e perigosa, que declara um apoio incondicional a esse mesmo governo burguês, o que volta a colocar em perigo o futuro do partido anticapitalista e independente que construímos.
Nesse novo cenário, com o giro de última hora do campo Semente, a Oposição de Esquerda, setor que estávamos construindo com o maior esforço unitário, embora existissem importantes diferenças, se fraturou. O Fortalecer informou sua retirada da resolução comum da Oposição e foi seguido pelo MES. Chegamos assim ao dia do DN, com 3 resoluções apresentadas: da direção majoritária, outra de parte da Oposição de Esquerda e outra da CST. A resolução majoritária foi votada pela Primavera, Rev. Solidária, Resistência, Insurgência, Subverta, MES e Fortalecer, enquanto a da Oposição de Esquerda pela Comuna, APS e nós, o Comitê de Enlace Luta Socialista e Alternativa Socialista. A da CST não teve votos.
O conteúdo da resolução vitoriosa é a afirmação de um projeto político de adaptação e cooptação ao Estado burguês, confiando nas instituições burguesas que constantemente atuam contra os interesses da classe trabalhadora e do povo pobre, afirmando um compromisso com aqueles que exploram e oprimem. Por outro lado, embora a Oposição de Esquerda já tivesse perdido a possibilidade de obter maioria na votação, manter uma resolução que demostrasse um posicionamento mais firme a favor da independência política do partido significaria uma sinalização às bases do PSOL que a Oposição de Esquerda está disposta a manter a disputa e batalhar pelo projeto fundacional contra o liquidacionismo. Fazemos esse debate fraterno com as e os companheiros da Oposição de Esquerda, esperando que possamos tirar conclusões e evitar erros que enfraquecem a batalha pela independência do partido.
A encruzilhada no PSOL continua e os próximos meses serão fundamentais ao futuro do partido. É daí que se faz necessário um posicionamento firme, sem ambiguidade nem cálculos mesquinos de uma corrente ou outra. Precisamos da mais firme e determinada unidade dos setores classistas e anticapitalistas para evitar a total submissão ao projeto da conciliação de classes. Infelizmente não é o que aconteceu no último DN.
Em defesa da independência do PSOL
O PSOL exerce importante influência no debate político atual, mobilizando opiniões e as bandeiras mais importantes das e dos socialistas no Brasil justamente por nunca ter silenciado diante das injustiças. Não podemos nos abdicar do direito de crítica. Nada pode nos afastar das bases estratégicas do partido de defender os interesses da classe trabalhadora diante das ameaças e ataques de todos os governos.
Somos ativos na luta contra o bolsonarismo e a independência partidária também é essencial para a vitória nesse campo. A bancada do PSOL no congresso nacional deve representar essa posição. Nossas e nossos parlamentares, tribunos da classe trabalhadora, devem enfrentar com igual valentia o bolsonarismo e os ataques que virão pelo governo Lula-Alckmin-Centrão contra o povo. Não podemos ter medo de fortalecer uma alternativa de esquerda, sendo firme oposição a qualquer ataque à classe trabalhadora e ao povo pobre.
Se instalou no PSOL um receio de se afirmar “Oposição de Esquerda” ao próximo governo. Um receio infantil por parte de alguns e oportunista por parte de outros. Naturalmente o PSOL já se colocou à oposição sobre a reeleição de Arthur Lira à Presidência da Câmara dos Deputados. Lula-Alckmin decidiram reconstruir o regime burguês em crise, natural da parte deles, mas será da nossa? O PSOL nasceu pra disputar uma alternativa política ou para ser o último vagão da Frente Amplíssima? O discurso de que a batalha contra o bolsonarismo passa pela governo é uma ilusão (infantil pra alguns, oportunista pra outros). Não é possível derrotar o bolsonarismo com as instituições que o sustenta. Bolsonaro sairá do governo, mas o regime dos ricos poderá lhe usar como uma carta quando necessária, como usou em 2018.
Se o PSOL se fechar na indecisão e no oportunismo político de ser parte da reconstrução do regime burguês estará fadado a desaparecer. Parte da resolução aprovada que permite o “afastamento” para eventualmente assumir cargo no governo, dando a liberdade de retorno, alimenta a política de submissão do partido à Frente Amplíssima. O campo Semente, o MES e o Fortalecer votaram numa política que na letra consta uma coisa, mas na prática poderá ser outra.
A batalha em defesa da independência continua. O Diretório Nacional resolveu de forma ambígua, sinalizando uma indevida subordinação ao governo Lula-Alckmin-Centrão.
São Paulo, 22 de dezembro de 2022.
Comitê de Enlace
Luta Socialista / Alternativa Socialista
Liga Internacional Socialista – LIS