Federação PSOL-REDE, e agora?

Por Alternativa Socialista-PSOL. LIS, Brasil.

Ontem, dia 18 de abril, o Diretório Nacional (DN) do PSOL votou a favor de conformar uma Federação Partidária por quatro anos com a REDE Sustentabilidade, partido sustentado por banqueiros, que defende o ecocapitalismo e milita contra a legalização do aborto, entre outras pautas reacionárias. Uma decisão que vai na contramão do caminho fundacional do partido quando, sob a defesa de um programa socialista, “os radicais do PT” deram início a um processo de reagrupamento das e dos que não aceitavam governar para o capital.

A decisão foi tomada por 38 membros do DN, representantes das correntes Primavera Socialista, Revolução Solidária, Subverta e o MES, este último, com seus 9 votos, permitiu que a direção majoritária do PSOL ganhasse uma importante votação para seu projeto de “refundação”, ou seja, de liquidação do projeto fundacional. Foram contra a Federação PSOL-REDE as correntes Fortalecer, APS, Comuna, LS, CST, CS, Insurgência, Resistência e Chico Alencar (RJ), somando 23 votos.

O projeto de “refundação” se fortalece

A Federação com a REDE sem dúvidas significa um importante avanço para aqueles que, como Juliano Medeiros e Guilherme Boulos, militam pela refundação do Partido Socialismo e Liberdade, modificando essencialmente o caráter de classe que até aqui o partido defendeu e teve. Para esses setores, não existe contradição alguma em fazer aliança política com um partido que representa os interesses burgueses, tratando-se de uma continuidade lógica da política de Frente Ampla que defendem há tempos.

A “refundação” é um projeto em andamento que vem ganhando peso no PSOL, em grande parte por responsabilidade de correntes que equivocadamente atuam com a direção majoritária sob o pretexto de debates táticos ou conjunturais, mas que, em definitivo, são parte de uma só política de liquidação do projeto de independência de classe e programa socialista. Dessa forma, a votação do último DN nunca foi só um debate tático, mas estratégico: destruir o que há de progressivo no partido.

O MES se equivoca

Com 9 representantes no DN, o MES pesou a balança a favor da política de conciliação de classes.Estevam Campos, da direção do MES, faz uma análise histórica do partido e define corretamente: O risco ao projeto do PSOL é que o Partido deixe de ser uma alternativa anti-regime”1, mas logo depois afirma “…somos favoráveis à formação da federação com a Rede Sustentabilidade em primeiro lugar como uma medida defensiva, pela manutenção da legalidade plena do PSOL”. Uma contradição gritante, num parágrafo define um raciocínio e no seguinte exatamente o oposto.

Concordamos que as eleições são um momento muito importante para qualquer partido que visa dialogar com as massas, ou grandes setores dela. Também temos acordo com a grande responsabilidade das direções políticas que atuam no PSOL, de conservar a legalidade e fazer os maiores esforços para sua manutenção. O que não entendemos é como isso se transforma numa prioridade acima do projeto estratégico de um partido antiregime e anticapitalista. Qual é a explicação do MES para este giro político? Não há explicação, só uma justificativa tática para resolver um problema de caráter estratégico.

As tentativas de proscrição política à classe trabalhadora não são novas e, enquanto existir o Estado burguês, suas instituições tentarão limitar a participação política dos trabalhadores e trabalhadoras. Nós, socialistas, sempre faremos o impossível para derrotar essas tentativas, confrontando com todas as nossas forças e lutando para que não sejamos empurrados na assimilação e a adaptação. O MES se equivocou e provocou o fortalecimento da direção majoritária e seu projeto de adaptação à ordem.

Resistência e Insurgência, com o GPS desligado

Valério Arcary, dirigente nacional da Resistência, diz “Não há nenhuma questão de princípios colocada na indicação de voto em Lula, no primeiro turno, mesmo com Alckmin. Um voto em Lula não significa apoio político ao programa eleitoral da candidatura Lula/Alckmin2. O que significa “indicação de voto” se não um apoio eleitoral a uma frente de conciliação de classe que vai governar o país nos próximos quatro anos? Arcary e a Resistência tentam esconder uma política frentepopulista nesta declaração sem sentido.

O posicionamento destas correntes são evidentemente favoráveis ao apoio eleitoral à chapa Lula/Alckmin e à Frente Ampla, que disputará o governo nas eleições presidenciais. No que refere à possibilidade de conformar o governo que surja dessa frente, e diante das declarações públicas de referências como Boulos ou do presidente do PSOL, fazem declarações formais, usando frases “vermelhas” que não tem nenhuma consequência na práxis. Ontem, corretamente, votaram contra a Federação PSOL-REDE, e suas argumentações se centraram na necessidade de manter a independência de classe. Existe uma contradição na política dessas correntes, ou se defende o projeto independente, ou se cai nos cantos de sereia da conciliação de classe. Não há meio termo.

Estamos no tempo de sair da encruzilhada e fortalecer o PSOL para a luta anticapitalista

São tempos de definições no Partido Socialismo e Liberdade, não há espaço para politicas oscilantes. É tempo de defender um projeto contra a assimilação à ordem do Estado burguês. Nenhuma tática eleitoral ou conjuntural pode ser pensada por fora da estratégia, porque assim se perde o rumo e fortalece o projeto de “refundação”.

Acabamos de perder uma batalha, mas ainda temos outras importantes pela frente. O dia 30 de abril, na Conferencia Eleitoral do PSOL, teremos uma nova data de embate. Vamos fazer crescer a unidade conquistada para enfrentar o acordo de Federação com a REDE e duplicar nossas forças.

Nós da Alternativa Socialista fazemos um chamado a fortalecer e radicalizar a esquerda do PSOL, a esquerda consequente que não abandona o projeto anticapitalista e seu programa socialista. Construir a unidade que existe nas fileiras do partido, respeitando a diversidade que o carateriza. E nesse caminho, te convidamos a construir uma ferramenta revolucionária, socialista e internacionalista para mudar tudo!

1https://movimentorevista.com.br/2022/03/sobre-a-federacao-psol-e-rede/

2https://revistaforum.com.br/opiniao/2022/4/18/lula-contra-bolsonaro-apesar-de-alckmin-por-valerio-arcary-113159.html