Equador: vitória da direita e fracasso do “mal menor”
Por Alberto Giovanelli
A votação entre o economista correísta Andrés Arauz e o banqueiro de direita Guillermo Lasso terminou com o triunfo do último por uma diferença de 4 a 5% dos votos. Arauz e Correa já reconheceram a vitória de Lasso e desejaram-lhe sucesso em sua administração.
Nos próximos dias, os companheiros equatorianos certamente avançarão na análise do resultado eleitoral, até porque há 10 dias se dava a vitória a Arauz, após ter vencido por mais de 13 pontos no primeiro turno contra Lasso e Yaku Perez, o candidato do movimento indígena do partido Pachakutik.
Lasso substituirá o governo do ex-pupilo de Correa (vamos lembrar que ele foi seu vice-presidente por seis anos), Lenín Moreno, o presidente que será lembrado como um dos piores da história do Equador, que deixou uma economia no vermelho: em 2020 o PIB caiu 7,8% e a dívida pública total atingiu 63% do Produto Interno Bruto. Em meio a crise desencadeada pela Covid 19, o Equador, juntamente com o Peru, provaram ser os países mais vulneráveis da América Latina contra a pandemia e o país que menos vacinou. As mais de 20 mil mortes são o triste exemplo da negligência e do abandono governamental.
O novo cenário
O novo presidente terá que buscar alianças com os outros partidos para que seus projetos de lei sejam aprovados pela Assembleia, já que a maioria dos membros da Assembleia pertence ao bloco Correísta, seguido pelo partido Pachakutik e Izquierda Democrática, partidos que neste segundo turno expressaram sua oposição a Lasso. Isto explica a alta porcentagem de votos em branco ou nulos que atingiu 18%.
Nos artigos anteriores, expressamos nossa opinião contra a geração de expectativas em um hipotético retorno do Correísmo. Após o primeiro turno, a virada do próprio Arauz para o centro foi ainda mais evidente. A justificativa é a mesma que já ouvimos tantas vezes, “não queremos assustar o eleitorado”, e por isso assumiu publicamente o compromisso de negociar com os credores internacionais o pagamento dos mais de 52 milhões em dívidas externas, sempre apoiando a dolarização da economia, aplicada desde o final dos anos 90, com base nos conselhos do ex-ministro argentino Domingo Cavallo.
Durante a campanha eleitoral, Araúz também não conseguiu quebrar a lembrança da falta de políticas combinadas com a repressão aplicadas pelo governo da Revolução Cidadã em relação ao movimento indígena, nem tornar confiáveis suas promessas para outros setores que enfrentaram o correísmo, a exemplo dos setores da educação e saúde.
Mais uma vez foi demonstrado que não há atalhos, que não há males menores, que cada uma dessas estradas inevitavelmente nos leva ao precipício. Sem uma política e um programa claramente anticapitalista, todas as outras alternativas inevitavelmente nos levarão a novas frustrações e decepções.
Mas também entendemos que o governo que emerge será sem dúvida um governo fraco porque as razões para a explosão no final de 2019 persistem e se tornaram mais agudas. Estamos convencidos de que não há nenhuma chance de que Lasso implemente seu programa neoliberal sem uma mobilização nacional que o enfrente nas ruas. É por isso que entendemos que o signo da próxima etapa continuará a ser de instabilidade política.
Nesse panorama, a tarefa urgente para os socialistas revolucionários do Equador é realizar uma avaliação profunda do que aconteceu, tirar todas as conclusões necessárias sobre o apoio a projetos que já demonstraram repetir os fracassos do passado e concentrar-se na construção de uma forte corrente anticapitalista. Desde a Liga Internacional Socialista, estamos convencidos de que existem condições concretas para avançar nesta direção.