Amazônia e Pantanal queimam: “o ar é insuportável”
por Mauricio Matos – Luta Socialista/PSOL
Quando o Supremo Tribunal Federal – STF decidiu pela divulgação das imagens da reunião ministerial ocorrida no dia 22/abril deste ano, a população brasileira pode observar, atônita, o baixo nível dos debates que ocorrem na cúpula que governa o país. Dentre outras, uma frase chamou a atenção: “(…) precisa ter um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto da cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.
Era Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, em sua batalha diária por desmontar todo o sistema de proteção ambiental construído no Brasil após o fim da ditadura militar. Filiado anteriormente ao PFL e ao DEM, entrou no governo Bolsonaro pela cota do Partido Novo. Antes, foi secretário estadual do Meio Ambiente na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), período no qual houveram movimentações milionárias entres suas contas bancárias. Em uma das ações nas quais é investigado, promotores do Ministério Público descobriram 54 transferências entre 2014 e 2017 que somam R$ 2,75 milhões. O dinheiro saiu da conta de seu escritório de advocacia para sua conta pessoal. Investiga-se sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
Salles coleciona uma extensa ficha corrida, o que levou o Ministério Público Federal a pedir seu afastamento do cargo, em julho/2020, em uma ação por improbidade administrativa assinada por 12 procuradores da República. O MPF identificou quatro grupos de medidas tomadas por Salles para quebrar a estrutura dos organismos ambientais do governo: desestruturação normativa, orçamentária, fiscalizatória e da transparência/participação. São decretos, despachos, portarias, redução de recursos para a fiscalização ambiental, desmonte do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), dentre outros.
Tentou se eleger deputado federal em 2018. Seu número (3006) era uma referência ao calibre 30-06, padrão das forças armadas norte-americanas até a Guerra do Vietnã. Em seu material de campanha pregava abertamente usar as balas do fuzil “contra a praga dos javalis” e “contra a esquerda e o MST”. Por seu perfil reacionário e sua atuação à frente do MMA, é chamado por ambientalistas de “ajudante de ordens da ministra da Agricultura”.
“Não consigo respirar”
A frase dita por George Floyd, quando era sufocado por um policial racista em Minneapolis-EUA, traduz um dos vários graves problemas decorrentes das queimadas na Amazônia e no Pantanal. Estudo realizado por IPAM, IEPS e Human Rights Watch avaliou o impacto sobre a saúde humana dos efeitos das queimadas ocorridas na Amazônia em 2019, associadas ao desmatamento na região. O pico das internações ocorreu em setembro/2019. Estima-se que a poluição atmosférica tenham atingido cerca de 4,5 milhões de habitantes em 168 municípios localizados na fronteira agrícola entre o cerrado, o pantanal e o bioma amazônico, área que desde a década de 1980 é conhecida como o “arco do fogo” ou “arco do desmatamento”.
Os quadros graves, que necessitaram de internação hospitalar, somaram 2.195, sendo que 70% foram pacientes identificados em duas faixas mais vulneráveis: 21% eram bebês de 0 a 12 meses e 49% eram idosos com mais de 60 anos. E os números devem ser maiores, pois o estudo se limitou às unidades de saúde que fazem parte do SUS, e também devem ser considerada a parcela da população amazônica que sequer tem a chance de ser atendida em um hospital. “O ar é insuportável”, resume um médico em Rio Branco-AC.
Fora Salles! Fora Bolsonaro e Mourão!
À serviço dos latifundiários, dos banqueiros e dos interesses econômicos norte-americanos, o governo Bolsonaro e sua corja de ministros reacionários, são um perigo real ao meio ambiente no Brasil e no mundo, com reflexos diretos na saúde e na vida dos trabalhadores.
Derrotar um governo que promove esse tipo de destruição é uma tarefa urgente para ambientalistas, defensores dos direitos humanos, trabalhadores, donas de casa, povos indígenas, populações quilombolas. Derrubar um governo que contribui para colocar em risco a vida no Planeta Terra é uma tarefa de todos nós. O ar está insuportável. Esse governo, também.