França: Notre-Dame, aqueles que fazem lenha da árvore caída



Como sempre, quando ocorre um fato dramático que comove com razão a população, não nos lançamos sobre ele em busca de algo oculto para especular sobre o que acaba de acontecer ou abusar das coincidências. Estão realizando investigações para determinar as causas do incêndio que devastou a catedral, que forma parte das joias do patrimônio da humanidade. Macron se precipitou sobre o sucesso como se ele mesmo tivesse começado o fogo. Triste palhaçada. A seguir, toda a chamada “classe política”, de todos dos bandos, fez seu número de união sagrada para salvar a NotreDame e se montar no assunto. Em meio a tudo isso, chegou Dupont-Feignant [1]. 

Para dizer a verdade, nosso primeiro temor era humano: o temor de que houvessem feridos e mortos entre os fieis, os trabalhadores, os bombeiros. Não há nenhuma vítima! Assim, para nossos governantes este drama se transformava em uma divina surpresa, um meio de chamar a atenção sobre uma causa “comum” que poderia apagar, por exemplo, as piedosas mentiras da ministra da Defesa.

No momento em que se consome a catedral, mulheres, crianças e civis morrem sob os bombardeios das armas francesas no Yemen e a fome mais atroz golpeia seus habitantes. A ministra Parly negou esta “intervenção” do arsenal do Estado francês.


União sagrada em marca 

União sagrada pela Catedral? Não com a gente! Ainda que apenas seja pela ajuda que o Estado francês aporta aos chefes sauditas em uma guerra de extermínio, um genocídio. Distribuição tarefas entre os fornecedores de armas e seus usuários, justificado há quatro anos pelo então primeiro ministro Valls, fascista disfarçado e mundano.

União sagrada com Macron e Le Pen? Sem nós, aconteça o que acontecer!

União sagrada com os magnatas do CAC 402? Jamais na vida! Estes fazem chover suas doações, que logo serão amortecidas pelas reduções de impostos que o patrocínio deles proporciona. E isso, seja qual for a causa deste drama. 


Algumas perguntas pertinentes

Como muitos, esperamos que a investigação se torne pública a medida que se descubram as causas. Mas, mais uma vez, não seremos parte de nenhuma destas “primaveras republicanas” por Notre-Dame.

Uma pergunta está em todas as bocas: quais medidas de segurança foram adotadas para evitar este drama? Qual era o número de bombeiros de guarda e inspetores de obra de NotreDame? Qual era o número de trabalhadores assignados a essa obra? Quais eram os prazos de realização? Qual era o dispositivo de luta contra incêndios ? O Estado terá que responder.


Dupont, profissional vago 

Por sua parte, Dupont-Aignan se destaca da unidade nacional em marcha e aponta a possibilidade de um atentado. No Huffington Post lemos: “Reativado no fato de qualificar este drama de possível atentado, Nicolas Dupont-Aignan admitiu que não tinha nenhum elemento…” [3]. Em geral, quando não se tem elementos, se evita fingir tê-los. A menos que um seja tão vago como esse Dupont.

Por suposto, não se pode descartar nenhuma pista, mas por hora a do atentado perde força.

“Nosso patrimônio é a humanidade”

Caso contrário, como disse uma internauta, nosso patrimônio é a humanidade. É nosso planeta, todas e todos seus habitantes e todas as obras humanas que testemunham nossa história, da que formam parte a história da arte, da arquitetura, a construção e a escultura em pedras, o trabalho de vidro e as cores. 


O trem de anúncios de Macron

…Nessa noite Macron pretendia anunciar, aparentemente, a indexação das aposentadorias de acordo com o aumento dos preços para os aposentados que cobram menos de 2.000 euros, uma conquista da luta dos coletes amarelos.

Queria anunciar medidas para trabalhar mais, outra culpa das direções sindicais nacionais parte dos acordos das “reformas” capitalistas. A supressão da ENA [4], que sem dúvida lisonjeará alguns populistas mal inspirados, foi no inicio um feito da Liberdade para recrutar altos funcionários por concurso no marco do Estatuto da Função Pública. Não garantiu àqueles que desde então governaram uma docilidade infalível, especialmente dos fiscais de finanças.

Nesse sentido, citamos Laurent Joffrin [5]: “Recordamos que a criação da Escola, preparada por Maurice Thorez [6], medida emblemática reclamada pelos partidários que mudaram o país depois da guerra, marcou um progresso republicano considerável. E foi então quando o sistema se desviou.” [7]

– Não esqueceremos os projetos de Macron de liquidar a função pública e a Escola.
– Macron chegou a fingir com incentivos fiscais … para nos taxar melhor!
– Nenhuma unidade nacional com quem queremos a saída!

La commune, 19/04/2019


1- Dupont-Aignan é um político de direita, tido popularmente de vago (faignant, em francês);
2- Índice da Bolsa de Paris;https://www.huffingtonpost.fr/entry/notre-dame-de-paris-dupont-aignan-brise-lunion-sacree-et-veut-une-commission-denquete_fr_5cb59c11e4b0ffefe3b64e82
3- Escola Nacional de Administração, onde altos funcionários públicos são treinados.
4- Editor do jornal Liberdade.
5- Líder comunista, Ministro da Função Pública entre 1945 e 1947.
6- A carta política de Laurent Joffrin, 17/4/19