Entre o mal menor e o bolsonarismo recuado, não derrotado
Por Alternativa Socialista/PSOL – LIS no Brasil
A atual conjuntura está marcada pelos ataques do governo Bolsonaro e centrão, no comando do parlamento, contra o povo trabalhador e pobre. Esses ataques são tanto contra as condições de vida – inflação, desemprego, precarização trabalhista, congelamento de salários, corrupção, entre outros – como contra conquistas democráticas – como o indulto presidencial para o fascista declarado de Daniel Silveira, ou as falas contra o processo eleitoral e, agora, a tentativa de cassação do mandato do Deputado Federal Glauber Braga, representante dos interesses das maiorias e à frente da luta contra a privatização da Petrobras.
Mas, todos esses ataques são acompanhados por uma política criminosa da esquerda da ordem ao defender o regime democrático burguês e as eleições como única arma contra o governo Bolsonaro e o bolsonarismo. A esquerda da ordem, os setores “progressistas”, se unificam em uma política: a vitória eleitoral da chapa presidencial frenteamplista, Lula-Alckmin, resultado e agente direto do adormecimento da insatisfação popular e com isso, abrindo espaço para o governo aplicar seus ataques.
Bolsonaro não está derrotado
Lula-Alckmin e a Frente Ampla com PT, PSB, tucanos (desfiliados do PSDB, mas com o mesmo projeto) e setores burgueses já acreditam serem vitoriosos. Sua política é dirigida a se postularem aos distintos setores burgueses como os únicos gestores possíveis. Lula, num discurso recente, afirmou: “quem nesse país tem mais autoridade de recuperar esse país que o Alckmin e eu? A experiência gerencial que nós temos para cuidar da coisa pública.” Assim, vão fechando acordos políticos com tudo mundo que declare apoio, indiferentes de direita ou esquerda, vale tudo na Frente Ampla “anti-bolsonarista” ou, como dizem: “civilização contra a barbárie”. A tática é reforçar a derrota de Bolsonaro nas urnas e evitar qualquer processo de mobilização que coloque em risco a frágil estabilidade governamental brasileira.
Bolsonaro está enfraquecido e muito provavelmente, até o momento, seja derrotado eleitoralmente, mas isso não significa que seja derrotado como projeto político. A negativa das direções burocráticas e da esquerda da ordem a construir e fortalecer a mobilização Fora Bolsonaro nas ruas significa manter vivo um perigo concreto: o bolsonarismo e a extrema-direita como fenômeno além da figura do próprio Bolsonaro.
Eleições: oportunidade ou beco sem saída?
O discurso de “mal menor”, ou “voto útil” anti-Bolsonaro, é o eixo do debate às massas. Evidentemente dialoga perfeitamente com o sentimento genuíno anti-Bolsonaro que, na ausência de uma alternativa política de esquerda socialista real, cai nos cantos de sereia da conciliação de classe e do frenteamplismo. Enquanto as direções se esforçam cada vez mais para adormecer a capacidade de resposta das massas, o governo Bolsonaro tenta avançar nas tarefas neoliberais – desmonte da educação e saúde pública, privatização da Petrobras, conclusão da liquidação na Eletrobras, destruição de nossos biomas, assassinatos de lideranças indígenas, do campo, ambientais, entre outros ataques.
Lula-Alckmin sabem muito bem que nem Bolsonaro e nem o bolsonarismo serão derrotados pela via eleitoral. Eles, políticos com “experiencia gerencial” do capital, procuram evitar uma crise social com mobilização de massas cavada pelo atual governo. A rejeição ao governo Bolsonaro tem crescido fortemente nos últimos dois anos e, se não fosse pela política consciente das direções sindicais, sociais e políticas da classe trabalhadora, o processo de levante da mobilização poderia ter avançado e aberto um cenário de derrota real, na luta de classes, ao bolsonarismo como alternativa de poder.
Nesse sentido, deixamos a questão: as eleições são uma oportunidade de fortalecer a luta contra esse governo, ou um verdadeiro beco sem saída? É inútil votar naqueles que se negam a derrotar Bolsonaro no terreno da luta de classes e chamam a confiar na institucionalidade burguesa como única alternativa. Nós não temos dúvidas, apostamos pela construção de uma alternativa política com independência de classe, anticapitalista e socialista, para expressar de forma clara e concreta um programa oposto ao da extrema-direita bolsonarista e da direita tradicional, mas também de desmascarar a política traidora da esquerda da ordem que hoje se postula como a única alternativa possível.
A direção do PSOL abandona a possibilidade de ser uma alternativa política socialista
Como já expressamos em textos anteriores, acreditamos que o projeto político fundacional do PSOL de partido amplo anticapitalista e com independência de classe, mesmo com debilidades programáticas, foi o que de mais progressivo surgiu no último período. A direção majoritária está liquidando esse projeto, caminhando a passo firme na adaptação ao projeto da conciliação de classes. Num momento tão importante para a luta contra Bolsonaro e o bolsonarismo, desiste da disputa política, de se apresentar às massas como uma alternativa política socialista, à esquerda do PT e sua Frente Ampla e, com isso, acaba com a possibilidade de ter uma ferramenta que vocalize as demandas de transformação do povo trabalhador e pobre deste país.
Alguns camaradas honestos, mas equivocados, acreditam que o PSOL está mostrando o que sempre foi. Será? Mesmo observando suas debilidades programáticas, questionamos se a política é construída na disputa concreta ou no imaginário engessado do que deve ser o “melhor programa”, com os “melhores princípio”, mas trancados numa redoma por fora da luta de classes. A política traidora da Direção do PSOL fortalece a superação da classe trabalhadora com as ferramentas reformistas e abre caminho a ferramenta revolucionária ou, de forma prematura, desorganiza ainda mais a consciência de nossa classe jogando-a no colo do frenteamplismo e, pior, do bolsonarismo?
Não temos dúvida que nesse processo de desorganização da consciência da classe trabalhadora – a única que, organizada, tem a possibilidade de derrotar de vez Bolsonaro e o bolsonarismo – o PT-Lula seja o principal responsável, mas também a direção do PSOL. Somente essas? E quando as direções do PSTU, PCB e UP se negam a conformar uma frente de esquerda socialista, nas lutas e nas eleições, deixando de disputar o setor que irá por fora da polarização Lula-Alckmin x Bolsonaro, não cabe também a responsabilidade política? Compreendemos que o divisionismo da esquerda classista e socialista nesse momento não ajuda na disputa da consciência. Não mostra a nossa classe e sequer ao pequeno setor que vai por fora da polarização que, mesmo minoritários, estamos dando um passo concreto na unidade das organizações classistas para as lutas que virão – com todas as diferenças e fortalecendo a pluralidade.
O “voto crítico” à chapa Lula-Alckmin também é desistir de ser alternativa política
Infelizmente, a onda do “taticismo” eleitoral ganhou peso em grande parte das correntes à esquerda do PSOL que, até ontem, defendiam conosco a candidatura própria do PSOL, parte da defesa da independência política do partido. Com diferentes argumentos e caracterizações políticas, se somam ao apoio eleitoral à frente ampla liderada pela chapa Lula-Alckmin.
Além de demonstrar uma rendição ao pragmatismo eleitoralista que orienta a política da Direção do PSOL, também expressa um recuo na possibilidade de disputar o partido contra o liquidacionismo. Com esse posicionamento equivocado dos camaradas, a defesa de um partido com independência de classe e programa socialista se enfraquece e provoca mais decepção na vanguarda de esquerda que não confia (felizmente!) na conciliação de classes e na frente ampla.
Estratégia e tática revolucionária nas eleições
A ausência de uma alternativa política de esquerda socialista, com capacidade de dialogar com setores de massas nestas eleições polarizadas entre dois projetos diferentes na forma, burgueses no conteúdo, é uma debilidade que as direções políticas devem resolver no futuro imediato. Do nosso ponto de vista, a reconstrução da esquerda sobre as bases de um projeto classista é uma prioridade.
Somos contra a decisão da direção do PSOL de se federar com a REDE, decisão onde o MES é corresponsável. Também somos contra à rendição ao projeto da conciliação de classes, chamando a confiar num futuro governo Lula-Alckmin, com alguns até falando de conformar esse governo, como é o caso das correntes Revolução Solidária (Boulos), a Primavera Socialista (Juliano Medeiros), entre outros. É por isso que nós da Alternativa Socialista-PSOL chamamos a votar na candidatura do Polo Socialista e Revolucionário (PSR), a companheira Vera Lúcia. Sabemos que, hoje, não é a ferramenta que necessitamos, por expressar principalmente a política da corrente que a dirige, o PSTU, e que isso transforma o PSR numa ferramenta limitada pela política sectária e de auto construção desse partido. Fazemos um apelo à militância do PSR a superar essas limitações e iniciar um debate amplo e de respeito à grande diversidade política que existe na esquerda socialista hoje e, assim, efetivamente começar a reorganizar um projeto anticapitalista, classista e socialista no Brasil.
Com a atual conjuntura deteriorada, as eleições no território da burguesia não conseguirão, por muito tempo, abafar a luta de classes. Nossa intervenção eleitoral nunca pode esquecer as limitações próprias de uma instituição a serviço da ordem capitalista, por isso as tática são válidas sempre que estejam a serviço de derrotar o capital, suas instituições, governos, e fortalecer a luta. É a partir desta premissa que, da Alternativa Socialista, chamamos a todas, todos e todes aqueles que como nós não caem nos cantos de sereia da Frente Ampla, a somar na construção de uma ferramenta revolucionária, anticapitalista e ecossocialista.