Não vamos com Lula-Alckmin
Por Alternativa Socialista/PSOL – LIS Brasil
1. A Conferência Eleitoral do PSOL, realizada em 30 de abril, foi a representação anti-democrática que toma de conta do partido, política levada a cabo pela direção majoritária com o Bloco PSOL de Todas as Lutas – Primavera Socialista, Revolução Solidária, Resistência, Insurgência e Subverta. Toda a encenação foi desmascarada ao mesmo dia com logomarcas e camisas prontas de “PSOL com Lula” e, principalmente, a comemoração marcada com a presença do próprio Lula-PT, entre aplausos e o reboquismo da direção, além da presença do PCdoB, REDE e PV.
2. Apesar da cínica política da direção majoritária de “derrotar o Bolsonaro” nacionalmente, não para agora, somente nas eleições, e “derrotar o tucanato” em São Paulo, mesmo com o tucano Alckmin na chapa com Lula, a esquerda radical do PSOL deu uma batalha consequente até o último minuto em defesa da candidatura própria representada pelo combativo companheiro Glauber Braga.
3. O PSOL participará de uma campanha frenteamplista, ou seja, com a composição de partidos e setores burgueses. Alckmin representa um recado de Lula para acalmar a burguesia: a Carta ao Povo Brasileiro 2.0. O trabalho de Lula é fazer com que o tucano seja engolido pelo eleitorado, “tudo para derrotar Bolsonaro”, e o trabalho de Alckmin é fazer com que Lula seja minimamente digerido pelos reacionários setores dominantes. No meio dessa grande disputa, a direção majoritária do PSOL quer fazer acreditar que disputará com um “programa próprio”. Esse “programa próprio” é resumido pelas intervenções da cúpula do partido: só o Lula para resolver a situação.
4. Alckmin é, também, a representação de setores que sustentam Bolsonaro na presidência desde 2019 e que aprovaram os imensos ataques ao povo brasileiro. A miséria, o desemprego, a violência, os ataques à classe trabalhadora, às mulheres, ao povo negro, aos povos indígenas, às LGBTs, à democracia foi cinicamente por partidos do regime como o PSDB, que, mesmo rompido, Alckmin é umbilical e programaticamente ligado.
5. Entendemos que a participação das e dos revolucionários nas eleições deve ser uma síntese, nem sempre fácil, entre táticas e estratégia. A limitação à primeira resulta no oportunismo, já a segunda, no sectarismo. Nos momentos de crise, entendemos que os revolucionários devem atuar de forma independente e disputando a organização da classe trabalhadora, chamado a frente entre as organizações classistas, unidade contra os ataques e denunciando os traidores que afogam as lutas do nosso povo para as vias legais.
6. Bolsonaro é um inimigo a ser combatido já. O PSOL, sua direção majoritária, teve um papel político medíocre em não denunciar uma linha sequer da desmobilização feita pelas cúpulas burocráticas – com Lula e o PT, pelo peso que possuem – para derrotar de vez as manifestações pelo “Fora Bolsonaro” no segundo semestre de 2021. A classe trabalhadora, os mais pobres, pagam com uma vida miserável por esta traição. O PSOL, infelizmente, serviu de aval para alavancar a campanha “Lula Presidente” no momento das manifestações, quando deveria ter sido articulador dos espaços de luta, como a Povo na Rua.
7. É fundamental destacar o papel que as correntes Resistência, Insurgência e Subverta (que compõem o Campo Semente) tiveram na composição e sustentação direta do que há de mais regressivo dentro do PSOL – Primavera Socialista e Revolução Solidária. É nítido o desejo de Juliano, Boulos e companhia de participarem dos governos petistas, em São Paulo e nacionalmente. O máximo que estas correntes conseguiram foi adiar o debate para um futuro próximo, somando seus votos na resolução apresentada pela maioria, contra a oposição, única resolutamente contrária a conformação de governos burgueses. Uma denúncia sequer da política liquidacionista foi feita. As direções do Campo Semente escondem a suas bases sobre o que votam a portas fechadas? As bases dessas correntes concordam com suas direções? A prioridade dessas correntes foi defender apaixonadamente a saída com Lula-Alckmin e nada mais que isso.
8. Os companheiros do MES, com uma política vacilante, favoreceram a direção majoritária ao defenderem a Federação com a REDE, parte do projeto de refundação do PSOL. Não há dúvida que a REDE é mais uma carta usada e financiada pela burguesia. Além da federação, não jogaram o peso que possuem na campanha pela candidatura própria com Glauber e, pouquíssimo tempo após o resultado da Conferência Eleitoral, decidiram chamar o “voto crítico” em Lula-Alckmin – a Fortalecer seguiu o mesmo caminho. Infelizmente, os companheiros não conseguem desafiar a estrutura do PSOL porque isso significa desafiar a própria dependência material.
9.Nesse momento de crise, o PSTU, UP, PCB e a Esquerda do PSOL tem a responsabilidade, para disputar um setor da vanguarda que saiu às ruas pelo “Fora Bolsonaro”, de construir um programa unitário que expresse a radicalidade e a necessidade de tirar Bolsonaro e apontar uma alternativa classista e socialista à crise. Para que a classe trabalhadora e o povo pobre possa governar. Nesse sentido, a política autoproclamatória de construção de si só serve para desencantar a vanguarda e jogá-la no colo do frenteamplismo. Nesse sentido, estivemos na defesa da Frente de Esquerda Socialista nestas eleições, dispondo a pré-candidatura de Glauber Braga.
10. A Alternativa Socialista, corrente do PSOL, não participará da campanha frenteamplista por Lula-Alckmin. Seguiremos com programa próprio e na defesa de uma alternativa de classe e socialista. Afirmamos que a derrota definitiva de Bolsonaro e do bolsonarismo não será realizada apelo pacto com a direita tradicional, como prega a esquerda da ordem e, infelizmente, o PSOL aceita. Para enfrentar a extrema-direita, precisamos uma alternativa com independência de classe e que apresente uma verdadeira saída para o povo trabalhador e pobre. Continuaremos apostando e militando para a construção dessa ferramenta, mesmo com o PSOL dando passos largos em sentido contrário.