34 anos sem Nahuel Moreno
Em memória aos 34 anos de falecimento do mestre Nahuel Moreno, em 25 de janeiro de 1987, publicamos um artigo escrito em 2019 por nossos companheiros do MST, seção argentina da Liga Internacional Socialista – LIS.
Aniversário da morte de Nahuel Moreno “Que a classe trabalhadora se autodetermine, seja democrática e tome o poder”
Por Emilio Poliak
Há 32 anos, no dia 25 de janeiro de 1987, faleceu Hugo Bressano, seu nome verdadeiro, fundador e dirigente histórico de nossa corrente. Não cultuamos a personalidade, prestamos homenagem a ele pela sua trajetória revolucionária, legado teórico e político.
Moreno foi um dos quadros que após o assassinato de Trotsky continuou sua obra, lutando para construir uma direção revolucionária mundial, acabar com a exploração capitalista e construir o socialismo com democracia operária. Seu legado inclui valiosas contribuições teórico-políticas e a construção de partidos trotskistas em diversos países, principalmente na América Latina, onde sua figura está presente em milhares de quadros e dirigentes que participam das principais lutas que enfrentam os governos capitalistas e o imperialismo.
Entre seus ensinamentos, destacamos o internacionalismo militante, a luta contra o dogmatismo e a busca permanente por táticas para aproveitar as oportunidades que a realidade oferece ao trotskismo de se vincular ao movimento de massas. Uma das principais trabalhos e méritos de Moreno é ter ligado a classe trabalhadora ao trotskismo.
Na classe operária
No início da década de 1940, o trotskismo argentino consistia em vários grupos que focavam sua atividade em longos debates teóricos nos cafés de Buenos Aires. Nahuel Moreno juntou-se a um desses grupos aos 15 anos e rapidamente entendeu que o trotskismo tinha que se vincular à classe trabalhadora como a única base possível para que um partido operário revolucionário fosse construído e avançasse sua estratégia.
Em 1943, com um pequeno grupo de camaradas, organizou o GOM (Grupo Obrero Marxista) cujo documento de fundação destacou: “Vamos nos unir ao movimento operário, aproximando-nos e entrando nas organizações onde estão, para intervir em todos os conflitos de classe”. Assim, o grupo passou a apoiar a greve do frigorífico Anglo-Ciabasa, uma das fábricas mais importantes do país, e se instalou em Villa Pobladora, coração do cordão industrial de Buenos Aires. A partir daí, a corrente morenista participou dos principais processos de luta do movimento operário, liderou comissões internas e participou da fundação de sindicatos, como a Associação dos Trabalhadores Têxteis, construindo a própria organização no calor dessas experiências.
Em todos os partidos que ajudou a construir e nos diferentes países, Moreno sempre fez questão de se articular e fazer parte das lutas da classe trabalhadora, aprendendo com ela e formando quadros e dirigentes nessas lutas, sendo esta uma das principais características do “morenismo”.
A classe operária como vanguarda revolucionária
Em diferentes momentos da história, outros setores estiveram na vanguarda das lutas e isso levou ao surgimento de diferentes teorias e debates sobre a centralidade da classe trabalhadora como sujeito social revolucionário. Do “desaparecimento da classe operária” à sua “aristocratização” ou “gentrificação”, serviram de argumento para a busca de outros sujeitos revolucionários. O campesinato, as nacionalidades oprimidas, os movimentos anti-racistas, a sociedade civil, o movimento feminista, etc.
Moreno não teve nenhum sectarismo com esses movimentos, ao contrário, defendeu que os partidos intervissem neles, como na revolução camponesa de Cuzco nos anos 1960 ou na revolução nicaraguense do final dos anos 1970 e, a partir dessas experiências, foi enriquecendo a própria teoria do partido. Por conseguinte, ele estava convencido de que a derrota do imperialismo e sua substituição por uma nova sociedade sem explorados ou exploradores estava ligada à classe trabalhadora à frente de todos os setores oprimidos. Não havia dogmatismo nessa convicção, mas correspondia às relações sociais que o sistema capitalista desenvolve, a possibilidade de derrotá-lo e as características da nova sociedade a ser construída.
Pelo local que ocupa na produção, pelo seu caráter internacional, por carecer de meios de produção e distribuição e não possuir mais do que sua força de trabalho, é a única classe cuja alternativa social, o socialismo, só é viável se for coletiva, social e libertando-se das cadeias da exploração, pode libertar toda a sociedade do domínio burguês. Justamente porque a classe operária não foi o sujeito social das revoluções do pós-guerra, não avançaram em sua extensão internacional, nem na democracia operária, nem na derrota do capitalismo imperialista. Por isso, para além da intervenção em diferentes processos, o seu centro sempre foi a construção do partido na classe trabalhadora.
Confiança na classe
Moreno tinha plena confiança de que a classe trabalhadora lutaria contra as consequências que a crise capitalista desencadeia sobre suas condições de vida e que nessas lutas estava a base para a construção de uma direção revolucionária, derrotando a burocracia sindical e as direções reformistas. E nessa confiança, que não é uma fé religiosa mas sim uma caracterização da realidade, ele nos formou e procuramos continuar formando os novos camaradas que se aproximam da luta por uma transformação social radical.
Alguns anos antes de sua morte, ele disse: “Devemos colocar na cabeça que nossa política está dirigida a convencer a classe trabalhadora de que deva se autodeterminar, ser democrática e tomar o poder por meio da revolução das massas trabalhadoras, dirigida por ela. Caso contrário, não alcançaremos à sociedade a que aspiramos. Então, como cientistas que somos, teremos que dizer que fracassamos, porque a classe na qual nos apoiamos se mostrou historicamente incapaz de tomar o destino da humanidade em suas mãos, incapaz da se autodeterminar, de mobilizar e de impor o domínio da democracia operária”. Ao mesmo tempo, afirmou que “isso tem a ver com o problema da direção. Para este problema também existem duas respostas: uma, é impossível modificá-la; outra, é impossível modificá-la. Se houver possibilidade de modificá-la, devemos lutar barbaramente para fazer um partido que consiga”.
Lute com vontade para vencer…
Hoje, o capitalismo vive uma crise que tende a se aprofundar, que alimenta o surgimento de governos de direita que incentivam a barbárie. Ao mesmo tempo, o movimento de massas responde com uma grande demonstração de força, as direções tradicionais do movimento operário estão em uma crise sem precedentes, o “possibilismo” reformista mostra todas as suas limitações aos trabalhadores da Europa e EUA.
Portanto, sabendo que se trata de uma luta aberta e que, como tal, pode ser ganha ou perdida, confiamos no futuro socialista da humanidade e lutamos por este com o mesmo otimismo e empenho que o velho Nahuel nos ensinou. Porque como ele disse: “o resultado depende da luta de classes, na qual estamos inseridos. Então, o essencial é lutar, lutar com vontade para vencer. Porque podemos vencer. Não há nenhum Deus que estabeleceu que não podemos fazer isso”.