O que é Centralismo Democrático

Em várias oportunidades, Nahuel Moreno (1924-1987) debateu sobre o regime do partido revolucionário, o centralismo democrático. Reproduzimos uma de suas contribuições e deixamos como indicação a leitura de “O Partido e a Revolução” (1973) e “Problemas de Organização” (1984 – baixe aqui). Além da contribuição de Moreno, também trazemos um trecho das Teses aprovadas no Terceiro Congresso da Internacional Comunista, a III Internacional, ocorrido em junho de 1921, sobre o tema.

Nahuel Moreno

Um partido, se não é centralista, não está pronto para a luta. Um partido que precisa enfrentar o regime e a polícia e atuar na luta de classes tem que ser centralista e muito disciplinado. Se não, não podemos dizer todos a mesma palavra de ordem, não podemos intervir com a mesma linha nas lutas, não podemos enfrentar a repressão. Se não há centralismo, disciplina férrea, dura, não pode haver partido revolucionário. Isso nos ensinou Lenin.

Não existe nenhuma revolução que tenha triunfado sem partidos disciplinados. Inclusive com centralização excessiva, como a guerrilha, que impõe uma disciplina militar à política. O comandante dá uma ordem (por exemplo, que devemos apoiar o frente populismo) e ninguém pode discutir. É centralismo militar para as questões políticas. Mas é centralismo.

Mas Lenin também era obcecado pelo outro polo, a democracia. Dentro do partido deve haver uma democracia extraordinária, muito grande. Isto é o que se chama centralismo democrático.

O centralismo democrático não é igual para todos. Quanto mais de base se é, mais independência se tem e maior liberdade se dá. O centro das reuniões dos organismos de base não pode ser disciplinador ou organizativo, deve ser político.

O operário ou estudante que vem ao partido deve sentir que, por fim, encontrou o primeiro lugar onde ele fala e é ouvido, onde ele quer fazer algo e faz, onde por tomar iniciativas, onde não está controlado como na sociedade burguesa, no qual é só um objeto. Tem que ver que suas opiniões, o que pensa, o que sente, o que quer fazer, é o que vale.

O centralismo democrático é o contrário de um exército. Os guerrilheiros, as correntes pequeno-burguesas, isso sem falar dos burocratas, que acreditam que é a mesma coisa, que se debate no Comitê Central e, à medida que se vai baixando, discute-se cada vez menos; o que se baixa são ordens, como um exército. E essa ordem chega ao último escalão, que é o menos importante: o militante.

O centralismo democrático e a disciplina são fortíssimos na direção. Mas à medida que se aproxima da base, a democracia é cada vez maior e quando se está na base é total: quase dá a impressão de que é um partido anarquista, onde cada qual faz o que quer. Por que é bom que isto seja assim? Porque tem enorme serventia para ajustar a linha política. Não há nenhuma direção, nem Lenin, nem Trotsky, nem Marx, que sempre acerta a linha e, ainda quando acerta, precisa modificá-la.

Tiveram erros catastróficos dentro do marxismo. Marx, Engels, Lenin e Trotsky cometeram grandes erros. A virtude deles era que se davam conta rapidamente e modificavam. Não era doloroso a eles dizer que estavam equivocados. E para saber se alguém está equivocado, é fundamental que a base opine e discuta livremente. Este é o seu papel fundamental.

Este é o papel fundamental do centralismo democrático: permite-nos testar se uma linha é correta. E as linhas muitas vezes são incorretas em partidos como o nosso. Ainda não tomamos o poder e nem somos um partidos de massas. Nossas direções são frágeis, ainda que os que esteja na direção sejam experientes e tenham passado a vida estudando o marxismo.

São débeis porque ainda ninguém passou pela prova de dirigir. A única virtude que nós queremos ter é a de sermos honestos. Ao invés de dizermos aos camaradas de base que estão frente a uma direção extraordinária, queremos dizer-lhes a verdade. Somos uma direção com debilidades e isso deve ser reforçado todos os dias na base.

Teses do Terceiro Congresso da Internacional Comunista (III Internacional)

6. A centralização democrática na organização do Partido Comunista deve ser uma verdadeira síntese, uma fusão de centralização e democracia proletária. Esta fusão só pode ser alcançada por uma atividade permanente e comum a todo o Partido.
A centralização dentro do Partido Comunista não deve ser formal e mecânica, deve ser uma centralização da atividade comunista, ou seja, a formação de uma direção poderosa, pronta para o ataque e ao mesmo tempo suscetível a adaptação […]
Uma centralização formal ou mecânica nada mais é do que a centralização do “poder” nas mãos de uma burocracia com o objetivo de dominar os outros membros do partido ou as massas do proletariado revolucionário fora do partido […]