O agronegócio incendiário

Por Verónica O’Kelly – Alternativa Socialista/LIS.

Onças, araras-azuis ejacarés são apenas alguns dos animais que estão sendo queimados no Pantanal. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe), os incêndios na região cresceram 210% entre 2019 e 2020. 19% de todo o Pantanal (o que significa umas 19 vezes a cidade de São Paulo) já foi afetado pelo fogo, percentual que está em ascensão acelerada e constante.

Pericias feitas com satélites que monitoram a área indicam que as queimadas começaram perto das zonas que hoje são utilizadas para a atividade pecuária. E, segundo informes da Polícia Federal, os incêndios teriam sido provocados intencionalmente. O objetivo é evidente, ampliar as áreas para a exploração pecuária a serviço do agronegócio.

O agronegócio está queimando a maior bacia hidrográfica do mundo, a maior área alagada do mundo está pegando fogo. Parece impossível, mas não é para quem busca lucro e no caminho destrói tudo.

Chega de boiada! Fora Salles!

A serviço do agronegócio, o Ministro de Meio Ambiente Ricardo Salles vem passando uma boiada criminosa que é urgente deter. O parceiro das corporações é o principal responsável do desmonte de órgãos de controle ambiental como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), provocando uma grande redução de fiscais atuando nas áreas de preservação e, como consequência, um recuo pronunciado no número de atuações lavradas. Ações que garantem não só lucro para o agronegócio,mas também impunidade.

Bolsonaro delegou a tarefa da destruição ambiental para o seu vice-presidente Hamilton Mourão. Em equipe com Salles, militarizaram a atuação nas zonas preservadas com o objetivo de disciplinar os verdadeiros guardiões da floresta, as comunidades indígenas e quilombolas.

Guardiões da floresta em perigo

As comunidades indígenas e quilombolas do Pantanal e da Amazônia vêm denunciando a atividade ilegal e preservando a floresta. Enfrentam os distintos governos, os militares e as milícias criminosas que atuam a serviço das corporações. Sofrem o impacto direto das queimadas e da destruição ambiental, e também a perseguição e os ataques provocados por processos judiciais, repressões constantes e assassinatos.

É por isso que devemos cercar as comunidades indígenas e quilombolas com a maior solidariedade. Divulgar e acompanhar a situação, e, sobre tudo, nos rebelar contra esse verdadeiro massacre humano e ambiental. Nossas vidas valem mais do que seus lucros, não deixemos que continue a boiada criminosa.

Há saída e é ecossocialista

O governo Bolsonaro sem dúvidas expressa um salto quantitativo e qualitativo na depredação ambiental. Mas não é o único problema nem responsável. O avanço do agronegócio e do garimpo, principais atividades econômicas que estão destruindo a Amazônia e o Pantanal, não são de hoje. Nos 12 anos de governo petista o crescimento foi histórico. Segundo o balance do ano 2015 da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a área dedicada à safra, só no período 2014/2015, cresceu 53%. A safra 1976/1977 produziu 46,9 milhões de toneladas, enquanto no período 2014/2015 a produção foi de 202,2 milhões[1]. Os benefícios econômicos dos altos valores das commodities na década de 2000 funcionaram como aceleradores do motor da economia brasileira e coveiros do nosso meio ambiente. Os governos de Lula e Dilma foram os gerentes desse negocio que gera fortunas milionárias para umas poucas corporações e fome, desemprego, contaminação e morte para a maioria da população camponesa, indígena e quilombola.

É por isso que lutamos para tirar Salles, como principal responsável pela depredação atual. Para ampliar as áreas preservadas com a proibição das queimadas e punir fortemente às empresas responsáveis pelos incêndios. Por um plano de reflorestamento e remediação sócio-ambiental nas zonas afetadas, financiado pelas mesmas empresas. Diante da demonstração da criminosa ação dos diferentes governos e a desesperante situação que provocaram, tendo em conta que não só não podem ser solução senão que são parte do problema, exigimos a conformação de uma comissão independente e permanente de controle e cuidado da floresta, conformada por aqueles que as habitam e conservam, verdadeiros guardiões da floresta, junto de trabalhadores e cientistas estudiosos do assunto. E começar a atacar o problema pela raiz, ou seja, contra a matriz produtiva capitalista de depredação, contaminação e morte, que de maneira indiscriminada produz com o objetivo de lucrar e não pelas verdadeiras necessidades sociais.

Propomos um modelo oposto. Partindo das necessidades reais dos povos, definidas com mecanismos de consulta democrática, estabelecer uma matriz produtiva com o menor impacto ambiental possível, priorizando nosso planeta e nossas vidas antes dos lucros capitalistas. Nós, os e as ecossocialistas da Alternativa Socialista, damos estas batalhas com perspectiva socialista e internacionalista para virar tudo, e acabar com este sistema de exploração e predação. Para que nós os trabalhadores, as trabalhadoras e o povo pobre, possamos governar e defender assim nossas vidas e o planeta que habitamos.


[1] Dados do balanço do ano 2015 da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil publicados no site:  https://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/pib-agronegocio-ganha-participacao-economia-brasileira-2015-60015/